Palavras de Vida Eterna


sábado, 24 de agosto de 2019

Um Vaso de Alabastro

...“ela praticou uma boa ação para comigo”. Mt 26.10

É indispensável trazer na mente nestes dias altamente ocupados e de atividades sem descanso, que Deus olha para tudo a partir de um único ponto de vista, avalia tudo por uma única regra, prova tudo por um único critério, e este critério, que governa Seu ponto de vista é Cristo. Ele valoriza as coisas segundo as mais próximas elas podem estar conectadas com o Filho do Seu Amor, e nada além. Tudo que é feito para Cristo, tudo que é feito por Ele é precioso para Deus. Tudo mais é sem valor. Muito serviço pode ser realizado e uma grande porção de louvor pode ser oferecida através de lábios humanos, mas quando Deus o analisa, Ele irá buscar somente uma coisa e é medindo o quanto este serviço está conectado à Cristo. Sua grande questão será: este serviço foi realizado em e para o Nome de Jesus? Se for, ele foi aprovado e recompensado; se não, será rejeitado e queimado.

Não importa o que os homens possam pensar sobre um trabalho específico. Eles podem ser elogiados sobejamente por algo que estejam fazendo; eles podem ostentar seu nome nos jornais; eles podem fazer do seu nome o assunto no seu círculo de amigos; eles podem ter um grande nome como pregador, mestre, escritor, filantrópico, reformador moral, mas se não pode conectar seu trabalho com o nome de Jesus - se este não é feito para Ele e para a Sua glória - se não é fruto do constrangimento do amor de Cristo, será todo soprado fora como a palha do chão da debulha de verão, e cair no esquecimento.

Um homem pode procurar um silencioso, humilde, modesto serviço, desconhecido e não noticiado. Seu nome pode nunca ser ouvido, seu trabalho pode nunca ser reconhecido, mas o que foi feito, foi feito simplesmente por amor a Cristo. Ele serviu na obscuridade com seus olhos no seu Mestre. O sorriso do seu Senhor é o suficiente para ele. Ele não pensou em nenhum momento em receber a aprovação dos homens; ele nunca procurou cativar o sorriso do homem ou evitar a sua censura. Ele tem procurado padronizar o sentido do seu caminho, simplesmente olhando para Cristo e agindo para Ele. Seu serviço irá permanecer. Este será lembrado e recompensado, porém ele não faz o serviço pensando na lembrança e na recompensa, mas simplesmente por amor a Cristo. Este é o serviço correto, a moeda genuína que irá subsistir ao fogo do dia do Senhor.

O pensamento de tudo isto é muito solene, e também muito reconfortante. É solene para aqueles que servem segundo um padrão aos olhos dos seus seguidores, mas reconfortante para todos aqueles que servem sob os olhos do seu Senhor. Esta é uma impronunciável misericórdia ser salvo do tempo da servidão, do espírito de agradar a homens presente hoje em dia e ser permitido andar diante do Senhor - poder iniciar, executar e concluir nossos serviços Nele.

Vamos analisar a mais amável e tocante ilustração sobre isto, nos apresentada na “casa do Simão o leproso” e registrada em Mateus 26. “Jesus está em Betânia, na casa de Simão o leproso, então veio até Ele uma mulher possuindo um vaso de alabastro contendo um unguento de grande valor, e derramou sobre a sua cabeça quando Ele estava sentado à mesa”.

Se nós perguntássemos para essa mulher enquanto ela caminhava em direção a casa de Simão, para que é isto? É para ostentar a excelência do perfume deste unguento ou o material e forma da caixa do alabastro? É para obter o louvor dos homens pelo seu ato? É para alcançar um grande nome pela extraordinária devoção a Cristo no meio do pequeno grupo de amigos pessoais do Salvador? Não, caro leitor, não é para nenhuma destas coisas. Como nós sabemos disto? Por causa do Deus altíssimo, o Criador de todas as coisas, que conhece os mais profundos segredos de todos os corações e a verdadeira motivação de cada ação é exposta, e Ele pesou a ação dela com a balança do santuário e colocou nela o selo de Sua aprovação. Ele estava lá na pessoa de Jesus de Nazaré - Ele o Deus do conhecimento através de quem todas as ações são pesadas. Ele enviou adiante sua ação com uma moeda genuína do reino. Ele não gostaria, não poderia fazer isto se houvesse alguma mistura, qualquer falsa motivação, qualquer pretensão oculta. Seu santo e penetrante olhar penetrou as maiores profundezas da alma da mulher. Ele sabia, não somente o que ela havia feito, mas como e porque ela havia feito aquilo, e Ele declarou, “ela praticou uma boa ação para comigo”.

Em uma palavra, o próprio Cristo tem o propósito imediato da alma da mulher, e foi isso que valorizou o seu ato e elevou o cheiro do unguento com cheiro suave ao trono de Deus. De modo nenhum ela sabia ou pensava que milhões leriam o registro de sua profunda devoção pessoal. De modo nenhum ela imaginou que seu ato seria gravado pela mão do Mestre nas páginas da eternidade, e nunca ser esquecido. Ela não pensou nisto. Nem tão pouco ela procurou ou sonhou com tamanha notoriedade; se ela tivesse feito assim, teria roubado a beleza do seu ato e desprovido toda a fragrância de seu sacrifício.

Mas o abençoado Senhor para quem o ato foi feito, cuidou para que não fosse esquecido. Ele não somente o defendeu naquele momento, mas o transmitiu para o futuro. Isto foi suficiente para o coração daquela mulher. Tendo a aprovação do seu Senhor, ela teve condições de suportar a “indignação” até dos “discípulos” e de ouvir que seu ato foi um “desperdício”. Foi suficiente para ela que o Seu coração foi refrescado. Todo o resto não foi nada por aquilo que tem valor. Ela nunca se preocupou em manter o louvor do homem ou evitar o seu escárnio. Seu único indivisível objetivo do princípio ao fim, foi Cristo. Do momento em que ela pegou o vaso de alabastro, até que ela o quebrou e derramou o seu conteúdo sobre Sua sagrada Pessoa, ela pensou somente Nele. Ela teve uma intuição perspectiva do que poderia ser conveniente e agradável ao seu Senhor na solene circunstância em que Ele estava inserido naquele momento, e com apurado tato ela fez aquilo. Ela nunca considerou o valor do unguento; ou, se ela considerou, ela sabia que Ele valia dez mil vezes mais. Quanto “aos pobres”, eles possuem o seu próprio lugar e suas súplicas também, mas ela sentiu que Jesus era mais para ela do que todos os pobres do mundo.

Em resumo, o coração da mulher estava cheio de Cristo, e foi isto que caracterizou o seu ato. Outros poderiam pronunciar que era um “desperdício”, mas nós podemos descansar seguros sabendo que nada que é gasto para Cristo é um desperdício. Então a mulher julgou, e ela estava certa. Para honrá-lo naquele momento em que o mundo e o inferno estavam se levantando contra Ele, este era o maior serviço que um homem ou anjo poderia executar. Ele estava indo para ser oferecido. As sombras estavam se estendendo, as trevas estavam se intensificando, a escuridão crescendo. A cruz com todos os seus horrores estava mais próxima; esta mulher se antecipou a todos e ungiu o corpo do seu adorável Senhor.

Marque o resultado. Veja como imediatamente o abençoado Senhor veio em sua defesa e a protegeu da indignação e do escárnio daqueles que pensavam saber mais do que ela. “Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Por que afligis esta mulher? Pois ela praticou uma boa ação para comigo. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho seja pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua”.

Aqui está uma gloriosa defesa na presença de quem toda a indignação humana, escárnios e falta de entendimento deve passar como a neblina da manhã antes do calor do nascer do sol. “Por que afligis esta mulher? Pois ela praticou uma boa ação para comigo”. Isto terminou com todo o resto. Tudo deve ser pesado de acordo com sua conexão com Cristo. Um homem pode andar o mundo inteiro levando seus nobres atos de filantropia; ele pode espalhar com nobreza os frutos do seu grande coração benevolente; ele pode dar todos os seus bens para alimentar os pobres; ele pode ir às últimas conseqüências no tocante a religiosidade e moralidade e não fazer uma única coisa em que Cristo possa dizer, “este foi um bom serviço para Mim”.

Caro leitor, seja quem você for ou o quanto você esteja engajado, pondere nisso. Veja que você mantenha os seus olhos diretamente em Cristo em tudo o que você faz. Faça de Jesus o objetivo imediato de cada pequeno serviço, não importa o quê. Procure servir de forma que Ele possa dizer, “este foi um bom serviço para Mim”. Não esteja preocupado com os pensamentos dos homens sobre os seus caminhos ou serviços. Não se importe com sua indignação ou sua falta de entendimento, mas derrame o seu vaso de alabastro sobre a pessoa do seu Senhor. Certifique-se que todos os seus atos sejam frutos da apreciação do seu coração a Ele. Então se assegure que Ele irá apreciar o seu serviço e te anunciar junto à assembléia dos anjos.

Deste modo é a mulher sobre a qual estamos lendo. Ela pegou seu vaso de alabastro e fez o seu caminho até a casa de Simão o leproso com um único objetivo no seu coração, nomeadamente, Jesus e o que estava a sua frente. Ela está absorvida por Ele. Ela não pensou em mais nada, a não ser o de derramar seu precioso unguento sobre a Sua cabeça. E como resultado, seu ato chegou até nós através dos registros do Evangelho, unido ao Seu santo Nome. Ninguém pode ler o Evangelho sem ler o memorial desta pessoa devotada. Impérios surgiram, floresceram e caíram no esquecimento. Monumentos foram erigidos para comemorar gênios, homens generosos e filantrópicos, e estes monumentos se tornaram um monte de pó, mas o ato desta mulher ainda vive e viverá para sempre. A mão do Mestre erigiu um monumento para ela, que nunca irá perecer. Que possamos ter a graça para imitá-la; e nestes dias onde existe um grande esforço humano em favor da filantropia, que nosso servir, sejam eles quais forem, seja o fruto da apreciação de nossos corações a um distante, rejeitado e crucificado Senhor!

Nada testa mais profundamente o coração do que a doutrina da cruz - o caminho do rejeitado, crucificado Jesus de Nazaré. Ela prova o coração do homem no mais profundo do seu interior. Se for meramente uma questão religiosa, o homem pode ir muito longe, mas Cristo não é religiosidade. Nós não precisamos ir muito além das linhas reveladas de nosso capítulo (Mt 26) para ver notável prova disto. Olhe para o palácio do sumo sacerdote e que você vê? Uma reunião especial das cabeças e líderes do povo. “Depois os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo reuniram-se no palácio do sumo sacerdote que se chamava Caifás”.

Aqui vemos a religião em uma forma muito imponente. Nós precisamos lembrar que estes sacerdotes, escribas e anciãos foram estabelecidos pelo professo povo de Deus como os depositários dos ensinos sagrados, assim como a máxima autoridade em todos os assuntos relacionados com a religião e como os assessores perante Deus no sistema que foi estabelecido por Deus nos dias de Moisés. Esta assembléia no palácio de Caifás não era composta por sacerdotes pagãos e profetas da Grécia e Roma, mas pelos professos líderes e guias da nação Judaica. O que eles estavam fazendo nesta reunião solene? Eles “consultaram-se mutuamente para prenderem Jesus com dolo e O matarem”.

Caro leitor, pondere nisso. Aqui nós temos homens religiosos, homens que são mestres, homens de peso e com grande influência entre o povo; e também estes homens odiavam a Jesus, e eles se reuniram em conselho para tramar a Sua morte - para prendê-Lo com dolo e O matarem. Agora estes homens podem ter falado com você sobre Deus e adoração a Ele, sobre Moisés e a lei, sobre o Sábado e todas as grandes ordenanças e solenidades da religião Judaica. Mas eles odiavam a Jesus. Lembrem-se do fato mais solene. Homens podem ser muito religiosos; eles podem ser guias religiosos e professores de outros e ainda odiar o Cristo de Deus. Esta é uma grande lição para se aprender no palácio de Caifás, o sumo sacerdote. Cristo não é religiosidade; ao contrário, os religiosos mais zelosos normalmente são tristes e veementemente odeiam o Abençoado.

Mas, podem dizer, “os tempos mudaram”. Religião está tão intimamente ligada ao Nome de Jesus, que para ser um homem religioso, é necessário ser um servo de Jesus. “Você não poderia mais encontrar ninguém respondendo como no palácio de Caifás.” Isto é mesmo uma realidade? Nós não podemos crer nisto por um momento. O Nome de Jesus é tão odiado hoje no meio dos cristãos como Ele foi odiado no palácio de Caifás. E aqueles que buscarem seguir a Jesus serão odiados da mesma forma. Não precisamos ir muito longe para provar isto. Jesus continua a ser rejeitado no mundo. Onde você irá ouvir o Seu Nome? Onde Ele é um tema bem vindo? Fale Dele onde você for, nas salas de visita dos ricos e elegantes, nos vagões dos trens, nos salões dos cruzeiros, nos cafés ou salões de jantar, em resumo, em qualquer lugar onde os homens frequentam, eles dirão a você, na maioria das vezes, que este tema está fora de propósito.

Você pode falar de qualquer outra coisa - política, dinheiro, negócios, prazer, besteiras. Estas coisas estão sempre no propósito, em qualquer lugar; Jesus não está em nenhum lugar. Nós vemos em nossas cidades, com freqüência, ruas sendo interrompidas para a passagem de desfiles, festivais e shows, e eles nunca são molestados, reprovados e impelidos a mudarem de lugar. Mas deixe um homem nestes lugares falar de Jesus e ele será insultado ou será levado a mudar de lugar e não interferir no tráfego. Em linguagem clara, existe lugar para o diabo em qualquer lugar deste mundo, mas não existe lugar para o Cristo de Deus. O lema do mundo para Cristo é: “Oh! Nem sussurre Seu Nome”.

Mas, graças a Deus, se o que você vê a sua volta são aquelas respostas do palácio do sumo sacerdote, nós também podemos ver aqui ou ali, aquilo que é correspondente com a casa de Simão o leproso. Lá estão, louvado seja Deus, aqueles que amam a Jesus e o consideram digno de receber o vaso de alabastro. Lá estão aqueles que não se envergonham da Sua cruz – aqueles que encontram Nele o seu objetivo mais cativante e que consideram sua principal alegria e maior honra o poder derramar e ser derramado para Ele em qualquer situação. Não é para eles uma questão de serviço, um mecanismo religioso, de correr aqui e ali, ou fazer isto ou aquilo: Não, é Cristo, é estar perto Dele e estar ocupado com Ele; é sentar aos Seus pés e derramar o precioso unguento do coração verdadeiro sobre Ele.

Caro leitor, esteja bem seguro de que este é o segredo do poder em ambos, serviço e testemunho. A correta apreciação do Cristo crucificado é um espargir vivo de tudo que é aceitável para Deus, tanto na vida e conduta individual do cristão como em tudo que ocorre nas assembleias. A genuína união com Cristo e dedicação a Ele deve nos caracterizar pessoalmente e coletivamente, senão nossa vida e história irão provar um pouco do peso do julgamento nos céus, porém este ainda pode ser um julgamento na terra. Nós sabemos que nada pode conceder mais poder moral ao caminhar individual e caráter do que uma intensa devoção à Pessoa de Cristo. Este não é meramente um homem de grande fé, um homem de oração, um estudante que toca profundamente na Palavra, um erudito, um pregador abençoado ou um poderoso escritor. Não, é ser um servo de Cristo.

Assim também deve ser a assembléia; qual é o verdadeiro segredo do poder? É o talento, eloquência, música refinada ou um cerimonial imponente? Não, é o gozo da presença de Cristo. Onde Ele está tudo é luz, vida e poder. Onde Ele não está tudo são trevas, morte e desolação. Uma assembléia onde Cristo não está é uma tumba, ainda que haja uma oratória fascinante, todos os atrativos da música refinada e toda a influência de um ritual imponente. Todas estas coisas podem ser perfeitas, e ainda os devotos servos de Jesus podem clamar: “Ai de mim! Eles levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram.” Mas, em contrapartida, onde a presença de Jesus é percebida, onde Sua voz é ouvida e onde o Seu verdadeiro toque é sentido, ali há poder e bênção, ainda que do ponto de vista humano, tudo possa parecer a mais completa fraqueza.

Que os cristãos se lembrem destas coisas, que ponderem sobre elas, os deixem perceberem que eles estão na presença do Senhor em suas assembleias, e se eles não puderem dizer isso, deixe eles se humilharem e esperar Nele, pois deve haver um motivo para isto. Ele disse, “onde houverem dois ou três reunidos em Meu Nome ali Eu estarei no meio deles” (Mt 18:20). Que nunca se esqueçam disso, para alcançar resultados divinos, deve-se encontrar a condição divina para isso.

Autor: C.H. Mackintosh

terça-feira, 20 de agosto de 2019

E-mail para o Apóstolo Paulo

Amado apóstolo:

Estou escrevendo para colocá-lo a par da situação do Evangelho que um dia você ajudou a propagar para nós gentios, e que lhe custou a própria vida. As coisas estão muito difíceis por aqui. Quase tudo o que você escreveu foi esquecido ou deturpado.

Você foi bastante claro ao despedir-se dos irmãos em Éfeso, alertando que depois de sua partida lobos vorazes penetrariam em meio à igreja, e não poupariam o rebanho [At 20.23]. Palavras de fato inspiradas, pois isso se concretiza a cada dia.

Lembra-se que você escreveu ao jovem Timóteo, que o amor ao dinheiro era a 'raiz de todos os males'[1Tm 6.10]? Quero que saiba que suas palavras foram invertidas, e agora se prega que o dinheiro é a 'solução' de todos os males.

Também é com tristeza que lhe digo que em nossa época ninguém mais quer ser chamado de pastor, missionário ou evangelista, pois isso é por demais humilde: um bom número almeja levar o título de apóstolo. Sei que em seu tempo, os apóstolos eram 'fracos... desprezíveis... espetáculo para os homens... loucos... sem morada certa... injuriados... lixo e escória' [1Co 4.-9-13]. Agora é bem diferente. Trata-se de uma honraria muito grande: acercam-se de serviçais que lhes admiram, quando viajam exigem as melhores hospedarias e são recebidos nos palácios pelos governantes.

Eles não costumam pregar seus textos, pois você fala muito da 'Graça' e da 'liberdade que temos em Cristo' [Gl 2.4]. Isso não soa bem hoje, pois a Igreja voltou à 'teologia da retribuição' da Antiga Aliança (só recebe quem merece), e liberdade é a última coisa que os pastores querem pregar à suas ovelhas.

Você não é bem visto por aqui, pois sempre foi muito humano, sem jamais esconder suas fraquezas: chegou até reconhecer  contradições internas, dizendo que não faz o bem que prefere, mas o mal, esse faz [Rm 7.19]. Eles não gostam disso, pois sempre se apresentam inabaláveis e sem espinhos na carne como você. A presença deles é forte, a sua fraca [2Co 10.10], eles são saudáveis, você sofria de alguma coisa nos olhos [Gl 4.13-15],  eles jamais recomendariam a um irmão tomar remédio, como você fez com Timóteo [1Tm 5.23], mas aqui eles oram e determinam a cura – coisa que você nunca fez.

Você dizia que por amor de Cristo perdeu 'todas as coisas'  considerando-as refugo [Fp 3.8]. As coisas mudaram, irmão. Agora cantamos: 'Restitui, quero de volta o que é meu!'.

Vivo em uma cidade que recebeu o seu nome, e aqui há um apóstolo que após as pregações distribui lencinhos vermelhos encharcados de suor, e as pessoas levam pra casa, como fizeram em Éfeso, imaginando que afastarão enfermidades [At 19.12]. Sim, eu sei que você nunca ordenou isso, nem colocou como doutrina para a igreja nas epístolas, mas sabe como é o povo....

Admiro sua coragem por ter expulsado um 'espírito adivinhador' daquela jovem [At 17.18], embora isso tenha lhe custado a prisão e açoites. Você não se deixou enganar só porque ela acertava o prognóstico. Hoje há uma profusão de pitonisas e prognosticadores no meio do povo de Deus, todavia esses espíritos não são mais expulsos, ao contrário, nos reunimos ansiosos para ouvir o que eles têm a dizer para nós.

Gostaria de ter conhecido os irmãos bereanos que você elogiou. Infelizmente, quase não existem mais igrejas como as de Beréia, que recebam a palavra com avidez e examinem as Escrituras 'todos os dias para ver se as coisas são de fato assim'[At 17.11].

Tem hora que a gente desanima e se sente fragilizado como Timóteo, o seu companheiro de lutas. Mas que coisa bonita foi quando você o reanimou insistindo para que reavivasse 'o dom de Deus' que havia nele [2Tm 1.6]. Estou lhe confessando isso, pois atualmente 90% dos pregadores oferecem uma 'nova unção' para quem fraqueja. Amo esta sua exortação, pois você ensina que dentro de nós já existe o poder do Espírito, dado de uma vez por todas, e não precisamos buscar nada fora ou nada novo!

Nossos cultos não são mais como em sua época, onde a igreja se reunia na casa de um irmão, havia comunhão, orações, e a palavra explanada era o prato principal.... as coisas mudaram: culto agora é como fosse um show, a fumaça não é mais da nuvem gloriosa da presença de Deus, mas do gelo seco, e a palavra é só para ensinar como conseguir mais coisas do céu.

O Espírito lhe revelou que nos últimos tempos alguns apostatariam da fé 'por obedecerem a espíritos enganadores' [1Tm 4.1]. Essa profecia já está se cumprindo cabalmente, e creio que de forma irreversível.

Amado apóstolo, sinto ter lhe incomodado em seu merecido descanso eternal, mas eu precisava desabafar. Um dia estaremos todos juntos reunidos com a verdadeira Igreja de Cristo.

Autor: Daniel Rocha
Enviado em 26/09/2008

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Deus Incomoda

Para uns, Deus é uma força cósmica, uma energia poderosa e inexplicável, que emana suas radiações dos confins do Universo.

Para outros, Deus criou o mundo, mas hoje está inoperante por não ter impedido que coisas ruins acontecessem, como o Holocausto, o 11 de setembro e a tsunami destruidora na Ásia.

Ainda para alguns, Deus é um ser castrador, que inventou mandamentos, regras e proibições para impedir que gozemos tudo o que há de bom na vida. Já em outro extremo, há os que vêm em Deus uma divindade  tão amorosa que Ele não faz conta de nossos erros, tropeços e pecados... é enfim, um “deus bonzinho”, que lá no Antigo Testamento foi severo, mas agora se arrependeu.

Não é difícil perceber que, embora desconheçam da natureza e do caráter divino narrados nas Escrituras, as pessoas estão em busca de uma espiritualidade – qualquer uma – para fruir de suas bênçãos e benesses, mas nem sempre desejam Aquele que originaram elas. O povo tem fome de que? Certamente não é do “Deus de Abraão, Isaque e Jacó”, e nem tampouco de Jesus de Nazaré.

Em primeiro lugar, o povo busca sensações prazerosas. Por isso a avaliação que fazem de nossas reuniões de fé sempre se dá no campo estético: “gostei”, “bonita apresentação”, “bela mensagem”. Ou ainda no campo da sensação: “senti uma coisa gostosa ali”.  Sem dúvida que a presença divina pode proporcionar tudo isso, mas um verdadeiro encontro com o Eterno não fica só na sensação: a vida inteira é tocada.

É duvidoso afirmar que a maioria das pessoas que procuram uma instituição religiosa ou o auxílio de um pastor, estejam de fato buscando um Deus que reine em suas vidas, que controle seu humor, dirija seus sonhos,  e conceda-lhes uma virada existencial. Não! Desde que a igreja atenda alguns de seus problemas pontuais, está tudo bem, e isso por vezes independentemente de qualquer fé em Deus.

Quando vejo nas manhãs frias de domingo igrejas repletas de fiéis, braços levantados, entoando cânticos de vitória, custa-me crer que estejam de fato buscando ao Deus Trino, Santo e Soberano. Vamos comprovar? Eliminem-se as promessas de cura, de emprego, e de resolução de problemas.... e aquele local se esvaziará.  Experimente-se num espaço de grande aglomeração de fé alterar o cardápio que será oferecido à multidão, e ao invés de um “encontro de milagres” promova-se ali um estudo profundo da Epístola de Tiago e uma palestra com o tema “Santidade ao Senhor”, e constataremos que todo interesse desaparecerá. Não, não é a Deus que buscam.

Na verdade, poucos querem Deus, pois Deus incomoda.  Ele nunca nos dá nenhuma certeza, a não ser Suas promessas  escritas num livro com mais de dois mil anos. Não há apólices, contratos ou qualquer outra segurança que seja visível ou palpável. Neste mundo moderno as pessoas não querem incertezas ou riscos.

Como Eugene Peterson observou, Deus incomoda porque esperamos que Ele resolva nossos problemas de caráter e de vícios de forma rápida e indolor. Mas Ele insiste num “programa de recuperação” lenta e gradual.

Deus incomoda porque Ele destrói nossas ilusões religiosas mais sublimes.  Foi assim com o povo que seguia a Jesus porque “tinham visto os sinais que ele fazia” (Jo 6.2), mas quando o Mestre começou a mostrar a outra face do Reino essas pessoas abandonaram a fé e já não andavam com Ele. Até os próprios discípulos também foram confrontados: ”Quereis também vós retirar-vos?” (Jo 6.67). Em outras palavras: o homem que segue a Cristo por uma razão falsa ou errada está iludindo a si mesmo e enganando a Igreja, pois quem os observa presume que este iludido seja um cristão. E não é! (Lloyd-Jones).

As pessoas não se sentem confortáveis com Deus em suas vidas. Elas preferem algo menos temível, como por exemplo, serem simpatizantes da fé e frequentadoras dos cultos. Por quê? Simples: Deus incomoda, perscruta, atinge, inquire, confronta nossos valores, provoca crise, altera nossa rotina, retira todas as nossas seguranças, substitui o reinado do ego para construir em nós o Seu reino, pede que eu me esvazie, e me “envia” ainda que eu não me ache preparado ou capaz.....

Definitivamente é perigoso envolver-se com Deus.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Parábola do Servo Fiel e do Prudente (Mt 24:45-51)

Nesse parágrafo o Mestre tem uma exortação para todos os Seus servos. Os fariseus tinham falhado como servos e agora os verdadeiros guias espirituais estão aqui apresentados. Devem ser fiéis, pois vivem e trabalham na ausência do Mestre exatamente da mesma forma como o fariam se estivessem sob o Seu olhar. Também devem ser prudentes, aptos a lidar com os seus conservos, de forma a encorajar o tímido e a reprovar o ousado. Devem ser governantes, dentro e fora de seus lares. Governar corretamente significa unir e inspirar os outros, afim de liderá-los numa linha correta de ação. Se forem completamente submissos ao seu Governante celestial, então conduzirão outros a se submeterem a Ele, e alimentá-los com a verdade e o Seu próprio exemplo e simpatia por eles. Para aqueles que assim servirem o Mestre, haverá um respeito ainda maior e honra imortal, quando Ele vier.

Ao acrescentar essa advertência contra a infidelidade, Cristo liga a fé ao comportamento. Se cremos em Sua vinda, devemos nos portar de acordo com o que acreditamos. Não podemos viver como desejamos, se verdadeiramente cremos que Ele pode vir a qualquer momento. Essa esperança deve governar a nossa vida no lar e impedir-nos de viver uma vida sem moderação e sem disciplina. Se nos conscientizarmos da volta do Mestre, e deixarmos que essa conscientização impere em todos os aspectos da nossa vida, então viveremos. Quando o servirmos de maneira a honrá-Lo, teremos verdadeira comunhão uns com os outros, santidade de vida e estaremos vigilantes. Para aqueles servos maus que escarnecem da verdade de Sua vinda e arrogantemente destratam os outros, e se associam com os glutões, há uma condenação repentina e veloz. Para eles não há prêmio - somente lhes cabe a porção junto com os hipócritas. O choro e ranger de dentes expressam a plenitude de sua vergonha. Que a graça nos seja concedida para que possamos viver de tal maneira que não sejamos envergonhados perante Ele em Sua vinda!

Autor: Herbet Lockyer
Extraído do livro – Todas as Parábolas da Bíblia – Editora Vida

domingo, 4 de agosto de 2019

Caótica sem Forma e em Crise

Lembro-me das primeiras aulas de hebraico tentando ler Gênesis 1.2: “a terra estava sem forma e vazia”, e o professor nos ensinando a expressar de forma bem gutural as palavras “tohu va-bohu”, que significam: um amontoado caótico de trevas aterrorizantes.

Segundo os teólogos que defendem a “Teoria da Lacuna” teria ocorrido uma catástrofe cósmica entre o verso 1 e 2 de Gênesis, e uma antiga criação que  abrigou uma raça pré-adâmica e também os dinossauros foi destruída pelo juízo divino há milhões de anos. E o que restou foi o caos.

Há algo em nosso ser interior muito próximo disso. Somos seres fragmentados, desconhecidos para nós mesmos, buscando ordenar nossa confusão interna. E o mesmo Senhor que pôs em ordem o cosmos com sua palavra e vontade deseja reorientar o interior do homem. É possível ver este desejo divino em prática quando Paulo diz que Deus nos “libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do seu Filho” (Cl 1.13). Enquanto o império das trevas cósmico recebeu a ordem divina: “haja luz”, e houve luz, o reino humano foi irradiado pela presença de Cristo, e nas regiões dominadas pelas sombras  brilhou a Luz de Sua Presença entre nós.

Desde o princípio o homem sofre de delírios de grandeza e por isso busca encontrar segurança nas suas realizações. A primeira grande tentativa da humanidade de realizar-se foi erigir uma torre para chegar ao céu, e gravar seu nome ali. De igual modo, a partir da Idade Média também passamos a construir templos monumentais e catedrais, procurando através deles “tocar o céu”, inspirar segurança e passar solidez aos seus frequentadores.

Hoje, não contentes com o “poder eclesial” este mesmo homem busca também o “poder político”. O maior grupo neo-pentecostal do Brasil já tem o seu partido (PRB), e agora, a mais tradicional igreja pentecostal foi picada pela “mosca azul” e está montando  também uma agremiação – o PRC – para entrar na política partidária. É o ovo da serpente sendo chocado: sabemos que em algum momento da História, a besta que emerge da terra (sistema religioso) juntará suas forças à besta que emerge do mar (poder político) para sua derradeira investida.

Se houve um juízo divino sobre o faraó do Egito e seu povo, se houve sobre os construtores da torre de Babel, se os filisteus  sofreram terríveis conseqüências por terem se apossado da arca, se a terra engoliu os adoradores do bezerro de ouro e se o rei Herodes foi  comido por vermes na frente de uma multidão por não ter dado glórias a Deus (At 12.23) não viria um juízo também sobre esta geração?

Deus é paciencioso e suporta longamente a perversidade dos que se desviam, mas Ele avisa: “Dei-lhe tempo para que se arrependesse”. Porém, a loucura e a bazófia dos homens tem subido até os céus.

Vivemos a mercantilização da vida onde tudo tem seu preço: valorizamos o que tem utilidade imediata para nós, inclusive gente, e quando não tem mais, a ordem é: jogue fora, e esqueça. Na atividade econômica trabalhadores precisam atingir as metas  traçadas por  acionistas ávidos de lucros – senão todos perdem o emprego.  Mas que ninguém se escandalize, pois isso já é normal nos grandes conglomerados da fé: pastores também têm de atingir suas metas – de valores, diga-se de passagem – e não de amor, visitação, cuidado ou pastoreio. É a mercantilização da fé onde “deus” nada mais é que um sujeito obcecado por dinheiro, e que só sabe falar money, money, money....

Ao contrário do que muitos imaginam, o juízo não começará pelos ímpios, porém, “o julgamento começa pela casa de Deus” (1Pe 4.17). Compreendo agora quando Salomão diz que “se o justo é punido na terra, quanto mais o perverso e pecador” (Pv 11.31).

A palavra grega que expressa juízo é “krisis”.  Não significa necessariamente condenação, podendo até mesmo ser uma oportunidade para decisão, porém será sempre dolorosa.  Para os médicos da Antiga Grécia a palavra “krisis” tinha um especial significado: quando o doente depois de medicado entrava em “crise”, era sinal de que haveria um desfecho: a cura ou a morte.

O Juízo e sua crise estão aí por toda a parte. Vidas tresloucadas, destroçadas, amarguradas. Mas João Batista adverte que a única coisa que pode nos livrar do juízo divino é o arrependimento e a conversão.

Não sei quanto a você, mas algo me diz que estes últimos acontecimentos que abalaram o mundo irão se aprofundar ainda mais para todas as áreas da vida. A humanidade se encontra sob a ira divina, pois “todo aquele que se mantém rebelde contra o Filho...  sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.36).  Ou seja, o único que pode impedir a ira do Eterno é Jesus. Vamos ouvir mais o que Ele tem a nos dizer, vamos praticar mais as Suas Verdades, e permitir que Ele controle o nosso ser cansado,  afinal o Juízo divino já está entre nós e horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hb 10.31).

Autor: Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Quem Conhece Ama

“Lembrai-vos dos encarcerados como se preso com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito,vós mesmos em pessoa fosseis os maltratados” (Hb 13.3).

Pink Floyd foi um grupo que fez muito sucesso nos anos 80. Seu líder, Roger Waters sempre foi conhecido pelo seu temperamento forte e por suas “loucuras”. O filme “The Wall”, produzido por ele é cheio de imagens psicodélicas, angustiantes, e claramente rodado sob pesadas drogas alucinógenas. Até agora, era essa a imagem que eu tinha dele. Porém, nesses dias vim a conhecer um pouco de sua história. Nasceu na Inglaterra em meio à 2ª Guerra Mundial, filho de um soldado que não o viu nascer, enquanto servia na Itália junto ao exército inglês. Para escapar dos bombardeios alemães sobre Londres, sua mãe enviou o filho para um lugar seguro no interior onde permaneceu com outras crianças até o final da guerra.

Alguns anos depois, quando fogos e festas anunciavam o fim dos combates, os pais foram buscar seus filhos naquele lugar. Aquele garoto viu seus amigos um a um serem levados, menos ele. Seu pai não veio, e pela primeira vez teve a clara consciência de que perdera o pai sem nunca tê-lo conhecido. Sentiu-se abandonado e sozinho, e esse passou a ser um tema obsessivo em suas canções. Waters tem passado a vida procurando o pai ausente num mundo frio e inóspito.

Essa leitura que fiz me aproximou dele, mesmo sem conhecê-lo. Quando nos aproximamos das pessoas, de seus dramas e de suas histórias, nossa visão muda. Identificamos-nos com elas. Descobrimos nelas companheiros de viagem. Descobrimos também que se trata de garotos e garotas assustados como nós, buscando um sentido no mundo, convivendo com a nostalgia de um Pai ausente.

Há alguns dias recebi um telefonema do hospital onde prestamos capelania. Queriam minha presença urgente para falar com um paciente que estava muito revoltado e descontrolado. Corri para lá, e quando entrei  no quarto percebi alguém de maquiagem forte e unhas pintadas. Era um travesti. Apresentei-me, estendi-lhe a mão, perguntei seu nome, e disse que estava ali para ouvi-lo e ajudá-lo. Após uma hora inteira de conversa ele havia se acalmado e eu já conhecia um pouco da vida do Edson (nome fictício), de sua família, seus temores e sonhos, seu desvio da fé, as portas que lhe foram fechadas... já não via mais alguém travestido do sexo oposto, porém um ser humano digno, embora fragilizado, alguém como qualquer outro buscando encontrar o centro do seu ser.

Quando nos aproximamos do outro em amor, desaparece o que nos causava espanto, raiva, ódio, perplexidade, para dar lugar à pessoa. Não é justamente isso que Jesus fez em todo o seu ministério?  Ao jovem rico que só pensava em sua fortuna,  Jesus “fitando-o, o amou” (Mc 10.21). Diante do Mestre já não era mais uma “samaritana”, nem uma “mulher” junto ao poço, mas uma pessoa que ele conhecia sua história e, a despeito de seus erros, a amou.

Vivemos num mundo cercado de muros que nós mesmos construímos. Jesus Cristo veio para quebrar as paredes de separação para nos aproximar uns dos outros. Cristãos deveriam também parar de erigir muros para construir pontes. O Evangelho nos desafia: se amais os seus pares, seus familiares, os que lhe são agradáveis, que recompensas tendes? Aliás, não precisa ser cristão para amar os seus iguais.

Permanecer junto a quem nos é igual e fechar-se num grupo, num partido – seja religioso, político ou étnico, é o caminho mais fácil para desenvolver na alma um sentimento de oposição, de medo, e é o estopim para um mecanismo de defesa chamado “projeção”, que nada mais é que jogar sobre o outro todas as mazelas indesejadas ou rejeitadas – mas não admitidas – que estão presentes em nós.

Palestinos e judeus que vivem separados por um muro, odeiam-se mutuamente. Árabes e judeus vivendo em Jerusalém ou qualquer outra cidade do mundo, quando se conhecem,  vivem amistosamente sem animosidades.

A intolerância diante do pecador é uma das posturas mais inadequadas que um cristão pode ter. Igreja que não ama ao pecador abandonou sua principal missão. Não se trata de condescender com o erro ou pecado, mas de colocar-se ao lado e dizer: “sei como você se sente, porque conheço também meus pecados e é justamente por causa deles que estou aqui; por isso estarei ao seu lado se precisar de mim”. – “Mas pastor, Jesus disse à pecadora para ela ir e não pecar mais”. É verdade, só que isso é interpretado de duas formas: para “nós” é um tratamento a longo prazo, onde Deus vai nos tratando e curando ao longo da vida. Para o “outro” é exigido que ele obedeça imediatamente, mesmo quando ele não tem forças para isso.

Aproximar-se das pessoas, ouvir suas histórias, desenvolver empatia por elas, e colocar-se em humildade nas mesma condições, permite que olhemos o mundo com os seus olhos. Esta é a postura que Deus espera de nós! “Lembrai-vos dos encarcerados como se preso com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fosseis os maltratados” (Hb 13.3).

Talvez nosso maior desafio seja o de conhecer o outro. Enquanto são desconhecidos, eles nos assustam e são alvo de nosso julgamento. Somos capazes de amar somente quando o distante se faz próximo.

Olhei ao longe e vi um animal caído na estrada. Cheguei mais perto e vi que era um ser humano. Abaixei-me e reconheci o meu irmão.

Autor: Daniel Rocha, pastor
dadaro@uol.com.br

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