Palavras de Vida Eterna


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

A Obediência do Filho de Deus

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus O exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2:5 a 11

Ele, Jesus, nos dias da Sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da Sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu  e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem. Hebreus 5: 7 a 9

O Senhor Inicia a Obediência
A Bíblia nos diz que o Senhor Jesus e o Pai são um. No começo era o verbo e o verbo era Deus. O céus e a terra foram criados pela palavra. A glória que Deus tinha no principio, até mesmo a glória inigualável de Deus, também era a glória do Filho. O Pai e o Filho existem igualmente e são iguais em poder e propriedade. Só em Pessoa há uma diferença entre o Pai e o Filho. Não é uma diferença essencial; é apenas um arranjo dentro da Divindade. Portanto, as Escrituras dizem que o Senhor “não julgou como usurpação o ser igual a Deus” – isto é, não era uma coisa a ser tomada. Sua igualdade com Deus não é uma coisa a ser tomada nem adquirida, pois inerentemente Ele é a imagem de Deus.

Filipenses 2:5-7 é uma seção e os versículos 8-11 outra. Nestas duas seções, nosso Senhor foi apresentado humilhando-se duas vezes: primeiro esvaziou-se de Sua divindade e, então, humilhou-se em Sua humanidade. Quando veio a este mundo, o Senhor tinha se esvaziado de tal maneira da glória que ninguém naquele tempo, a não ser por revelação, reconheceu-o como Deus. Trataram-no como homem, uma pessoa comum neste mundo. Como Filho, de boa vontade submeteu-se à autoridade do Pai e declarou “o Pai é maior do que Eu” (João 14:28). Portanto há perfeita harmonia na Divindade. Alegremente o Pai assume o lugar de Cabeça, e o Filho reage em obediência. Deus torna-se o emblema da autoridade, enquanto Cristo assume a posição de símbolo da obediência.

Para nós, os homens, obedecer deveria ser simples, porque tudo de que precisamos é um pouco de humildade. Para Cristo, entretanto, ser obediente não foi uma questão simples. Foi muito mais difícil para Ele ser obediente do que criar os céus e a terra. Por quê? Porque teve de esvaziar-se de toda a glória e poder de Sua divindade e assumir a forma de escravo para poder obedecer. Portanto a obediência foi iniciada pelo Filho de Deus.

O Filho originalmente partilhou a mesma glória e autoridade com o Pai. Mas quando veio ao mundo, de um lado, abandonou a autoridade e, de outro, assumiu a obediência. De boa vontade assumiu o lugar de escravo, aceitando as limitações humanas de tempo e espaço. Ele se humilhou ainda mais e foi obediente até à morte. Obediência dentro da Divindade é a coisa mais admirável em todo o universo. Sendo Cristo obediente até a morte – sofrendo uma morte muitíssimo dolorosa e vergonhosa na cruz – Deus o exaltou sobremaneira. Deus exalta todo aquele que se humilha. Este é um principio divino.

Estar Cheio de Cristo é Estar Cheio de Obediência
Uma vez que o Senhor deu inicio à obediência, o Pai tornou-se o Cabeça de Cristo. Portanto, uma vez que a autoridade e a obediência foram instituídas por Deus, é natural que aqueles que conhecem Deus e Cristo obedeçam. Mas aqueles que não conhecem Deus nem Cristo, não conhecem a autoridade e a obediência. Cristo é o principio da obediência. Portanto, uma pessoa que está cheia de Cristo deve ser uma pessoa que também está cheia de obediência.

Hoje em dia, as pessoas costumam perguntar: “Porque que eu tenho que obedecer? Considerando que ambos somos irmãos, por que tenho de obedecer a você?” Mas os homens não tem qualificações para fazer tais perguntas. Só o Senhor tem esta qualificação; contudo Ele jamais anunciou tais palavras nem um tal pensamento jamais penetrou em Sua mente. Cristo representa obediência, que é tão perfeita quanto a autoridade de Deus. Que Deus seja misericordioso com aqueles que proclamam conhecer a autoridade quando obediência falta em suas vidas.

O Caminho do Senhor
No que se refere à Divindade, o Filho e o Pai são co-iguais; mas sendo Ele o Senhor, foi recompensado por Deus. O Senhor Jesus Cristo foi feito Senhor só depois que Se esvaziou. Sua divindade deriva do que Ele é, por ser Deus em sua natureza inerente. Ser Senhor, entretanto, é um resultado do que fez. Foi exaltado e recompensado por Deus para ser Senhor só depois que abandonou Sua glória e manteve-se no papel perfeito de obediência. No que se refere a Ele, é Deus; no que se refere a recompensa, é o Senhor. Seu Senhorio não existia originalmente na Divindade. A passagem de Filipenses 2 é dificílima de explicar; pois é muitíssimo controvertida além de ser muitíssimo santa. Vamos descalçar nosso pés e pisar terreno santo recapitulando esta passagem bíblica. Parece que no principio houve um conselho na Divindade. Deus idealizou um plano para a criação do Universo. Nesse plano, a Divindade concordou que a autoridade fosse representada pelo Pai. Mas a autoridade não pode ser estabelecida no Universo sem a obediência, pois não pode existir sozinha. Portanto, Deus tem de encontrar a obediência no Universo. Seriam criados dois tipos de seres vivos: os anjos (espíritos) e os homens (almas viventes). De acordo com Sua onisciência, Deus previu a rebelião dos anjos e a queda do homens, por isso não lhe foi possível estabelecer Sua autoridade nos anjos ou na raça adâmica. Consequentemente, dentro do acordo perfeito da Divindade, essa autoridade seria atendida pela obediência no Filho. A partir daí começaram as operações distintas de Deus Pai e Deus Filho. Um dia Deus Filho se esvaziou e, tendo nascido em semelhança de homem, tornou-se símbolo da obediência. Considerando que a rebeldia surgiu nos seres criados, a obediência teria agora de ser estabelecida num ser criado. O homem pecou e se rebelou; por isso a autoridade de Deus tem de ser estabelecida na obediência do homem. Isto explica por que o Senhor veio ao mundo e foi feito igual ao homem criado.

O nascimento de nosso Senhor é na realidade o aparecimento de Deus. Em lugar de permanecer como Deus com autoridade, colocou-se ao lado do homem, aceitando todas as limitações do homem e assumindo a forma de escravo. Ele enfrentou o possível perigo de não ser capaz de retornar com glória. Se desobedecesse na terra como homem, ainda poderia reclamar o Seu lugar na Divindade usando de Sua autoridade original; mas, nesse caso, teria para sempre quebrado o principio de obediência.

Havia duas formas de o Senhor retornar: uma era obedecendo absolutamente e sem reservas como homem, estabelecendo a autoridade de Deus em todas as coisas, em todas as ocasiões, sem o menor toque de rebeldia; assim, passo a passo, através da obediência a Deus, tornar-se-ia o Senhor de tudo. A outra seria forçando o Seu caminho de volta, reclamando e usando a autoridade, o poder e a gloria de Sua divindade, se considerasse a obediência impossível através da fraqueza e limitações da carne humana.

Mas o Senhor ignorou o segundo caminho e trilhou humildemente o caminho da obediência – até a morte. Tendo-se esvaziado, recusou voltar atrás. Ele jamais tomaria um caminho assim ambíguo. Se o Senhor falhasse no caminho da obediência, depois de renunciar Sua gloria e autoridade divinas, assumindo a forma de escravo, jamais teria novamente retornado com glória. Só através da obediência como homem é que ele retornou. Assim Ele retornou com base na obediência perfeita e singular. Embora sacrifício fosse acrescentado a sacrifício, Ele demonstrou obediência absoluta, sem o menor toque de resistência ou rebeldia. 

Consequentemente, Deus o exaltou grandemente e o Fez Senhor quando retornou à glória. Não foi Jesus que se encheu com aquilo de que uma vez se esvaziara; antes, foi Deus Pai. Foi o Pai que trouxe este Homem de volta à glória. E, assim, Deus Filho também é agora Jesus Homem em Seu retorno à glória. Por causa disto, o nome de Jesus é preciosíssimo; não há ninguém no Universo igual a Ele. Quando na cruz exclamou “Tudo está consumado!”, proclamou não somente a consumação da salvação mas também o cumprimento de tudo o que Seu nome significa. Portanto, Ele obteve um nome que está acima de todo nome, e diante do Seu nome todo joelho deverá se dobrar e toda língua deverá confessar que Jesus é Senhor. Doravante, Ele é o Senhor bem como Deus. Ser o Senhor fala do Seu relacionamento com Deus, de como foi recompensado por Deus. Ser Cristo revela o Seu relacionamento com a igreja.

Resumindo, então: quando o Filho deixou a glória não pretendia retornar com base nos Seus atributos divinos; pelo contrário, desejou ser exaltado como homem. Desta maneira, Deus confirmou Seu principio de obediência. Como é imprescindível que sejamos totalmente obedientes sem o mais leve traço de rebeldia! O Filho retornou ao céu como homem; foi exaltado por Deus depois que obedeceu na semelhança de homem. Vamos encarar este grande mistério da Bíblia. Quando se despediu da glória e se revestiu da carne humana, o Senhor determinou não regressar por virtude de Seus atributos divinos. E tendo jamais dado o menor sinal de desobediência, foi exaltado por Deus com base em Sua humanidade. O Senhor abandonou a Sua gloria quando veio; mas quando retornou, não só recebeu de volta essa mesma gloria, mas recebeu ainda glória muito maior.

Que nós também tenhamos esta mente que havia em Cristo Jesus. Vamos todos trilhar o caminho do Senhor e nos apegar à obediência tornando muito nosso este principio da obediência. Sujeitemo-nos uns aos outros. Tendo uma vez entendido este principio não teremos dificuldade em discernir que nenhum pecado é mais sério do que a rebeldia e nada é mais importante do que a obediência. Só no principio da obediência podemos servir a Deus; só obedecendo como Cristo obedeceu podemos reafirmar o principio divino da autoridade, pois a rebeldia é a operação do principio de Satanás.

Aprendendo a Obediência Através do Sofrimento
Em Hebreus 5:8 somos informados que Cristo “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”. O sofrimento exigiu obediência do Senhor. Por favor, observe que Ele não trouxe obediência a esta terra; Ele a aprendeu – e o fez através do sofrimento.

Quando encontramos o sofrimento, aprendemos a obediência. Tal obediência é verdadeira. Nossa utilidade não fica determinada através do nosso sofrimento, mas pelo tanto de obediência que aprendemos por meio desse sofrimento. Sós os obedientes são úteis para Deus. Enquanto o nosso coração não for amolecido, o sofrimento não nos abandonará. Nosso caminho passa por muitos sofrimentos; os que amam os prazeres e as coisas fáceis são inúteis para Deus. Vamos, portanto, aprender a obedecer no sofrimento.

A salvação torna as pessoas obedientes e também alegres. Se nós só buscamos a alegria, nossas propriedades espirituais não serão abundantes; mas aqueles que são obedientes experimentarão a abundancia da salvação. Não vamos transformar a natureza da salvação. Vamos obedecer – pois nosso Senhor Jesus, tendo sido aperfeiçoado pela obediência, tornou-se a fonte de nossa salvação eterna. Deus nos salva para que possamos obedecer à Sua vontade. Se travamos conhecimento com a autoridade de Deus, descobrimos que a obediência é fácil e que a vontade de Deus é simples, porque o próprio Senhor sempre foi obediente e nos transmitiu esta vida de obediência.

Autor: Watchman Nee
Extraído do livro Autoridade Espiritual


sábado, 31 de julho de 2021

Contemplando a Deus

Deus é, primeiramente, um Ser incompreensível, e, encantados e absortos ante a Sua grandeza infinita, vemo-nos constrangidos a adotar as palavras de Sofar: 'Porventura alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar' (Jó 11:7-9). Quando volvemos os nossos pensamentos para a eternidade de Deus. Sua imaterialidade, Sua onipresença, Sua onipotência, vemos que todas elas transcendem nossas mentes.

Mas a incompreensibilidade da natureza divina não é razão para desistirmos da pesquisa reverente e da luta em oração para apreender o que Ele de Si mesmo revelou por Sua graça em Sua Palavra. Dado que somos incapazes de adquirir conhecimento perfeito, seria insensato dizer que, portanto, não faremos nenhum esforço para conseguir qualquer proporção dEle. Com acerto se tem dito que 'nada alargará tanto o intelecto, nada engrandecerá tanto a alma do homem, como uma investigação devota, zelosa e continuada do grande tema da Deidade. O mais excelente estudo para a expansão da alma é a ciência de Cristo, e Este crucificado, e o conhecimento do Ser divino na Trindade gloriosa' (C. H. Spurgeon). Para citar um pouco mais o príncipe dos pregadores: 'O estudo próprio do cristão é o da Deidade. A mais alta ciência, a mais elevada especulação, a mais vigorosa filosofia, com o poder de empolgar a atenção de um filho de Deus, é o nome, a natureza, a pessoa, os feitos e a existência do grande Deus, a Quem ele chama seu Pai. Na contemplação da Deidade há algo capaz de comunicar sumo progresso à mente. É um assunto tão vasto que todos os nossos pensamentos se perdem em sua imensidade; tão profundo que o nosso orgulho se submerge em sua infinidade. Outros assuntos podemos compreender e tentar assimilar; neles sentimos uma espécie de satisfação própria, e seguimos nosso caminho pensando: 'Vejam como sou sábio!' Mas quando chegamos a este assunto magistral, vendo que a nossa sonda não consegue sondar a sua profundidade e que o nosso olho de águia não consegue ver a sua altura, vamos embora pensando: 'Eu sou de ontem apenas, e nada sei' (Sermão sobre Malaquias 3:6).

Sim, a incompreensibilidade da natureza divina deveria ensinar-nos humildade, cautela e reverência. Após todas as nossas pesquisas e meditações, temos que dizer com Jó: 'Eis que isto são apenas as orlas dos Seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dEle!...' (Jó 26:14). Quando Moisés implorou ao Senhor por uma visão da Sua glória, Ele respondeu-lhe: '. . . apregoarei o nome do Senhor diante de ti...' (Êxodo 33:19), e, como já se disse, 'o nome é a coleção dos Seus atributos'. Acertadamente o puritano John Howe declarou: 'Portanto, a noção que podemos formar da Sua glória é apenas como a que podemos ter de uma obra volumosa comparada com uma breve sinopse, ou de uma espaçosa região comparada com uma pequena vista panorâmica. Ele nos dá aqui um fiel relato de Si mesmo, mas não completo; o bastante para garantir — graças à orientação que por ele nos vem — que a nossa compreensão fique livre de erro, mas não de ignorância. Podemos aplicar as nossas mentes à contemplação das diversas perfeições pelas quais o Deus bendito nos revela o Seu ser, e em nossos pensamentos podemos atribuí-las todas a Ele, apesar de só termos ainda fraca e defeituosa concepção de cada uma delas. Todavia, na medida em que a nossa compreensão corresponda à revelação que Ele nos dá das Suas várias excelências, temos uma apropriada visão da Sua glória'.

Como é realmente grande a diferença entre o conhecimento de Deus que os Seus santos têm nesta vida e aquele que eles terão no céu! Contudo, como o primeiro não deve ser menosprezado por ser imperfeito, o último não deve ser engrandecido acima da realidade. Certo, as Escrituras declaram que então veremos 'face a face' e conheceremos como somos conhecidos (1 Coríntios 13:12), mas inferir disto que conheceremos então a Deus tão completamente como Ele nos conhece é deixar-nos iludir pelos simples sons das palavras e não atentar para a restrição delas, restrição que o assunto exige necessariamente. Há uma imensa diferença entre serem glorificados os santos e serem eles divinizados. No seu estado glorificado, os cristãos continuarão sendo criaturas finitas, e, portanto, nunca serão capazes de compreender plenamente o Deus infinito.'

'Os santos no céu verão a Deus com os olhos da mente, pois Ele sempre será invisível aos olhos do corpo; e O verão mais claramente do que poderiam vendo-O pela razão e pela fé, e mais extensamente que tudo que as Suas obras e dispensações dEle revelaram até então; mas as suas mentes não serão aumentadas a ponto de poderem contemplar de uma vez, ou minuciosamente, a excelência completa da Sua natureza. Para compreenderem a perfeição infinita, eles próprios teriam que se tornar infinitos.

Mesmo no céu, o seu conhecimento será parcial, mas ao mesmo tempo a sua felicidade será completa, porque o seu conhecimento será perfeito neste sentido: será adequado à capacidade do sujeito, sem todavia exaurir a plenitude do objeto. Cremos que será progressivo e que, à medida que se lhes amplie a visão, sua bem-aventurança aumentará; nunca, porém, chegará a um limite além do qual não haja mais nada para ser descoberto; e depois de se terem passado eras e mais eras, Ele continuará sendo o Deus incompreensível' (John Dick,  1840).

Segundo, um exame das perfeições de Deus mostrará que Ele é um Ser absolutamente suficiente. É o em Si e para Si mesmo. Como o primeiro dos seres, Ele não precisa receber nada de outrem, nem pode ser limitado pelo poder de ninguém. Sendo infinito, possui todas as perfeições possíveis. Quando o Deus triúno existia totalmente só, Ele era tudo para Si próprio. Seu entendimento, Seu amor, Suas energias encontravam nEle mesmo um objeto adequado. Se tivesse necessidade de alguma coisa externa, não seria independente e, portanto, não seria Deus. Ele criou todas as coisas, e isso 'para Ele' (Colossenses 1:16); todavia, não para preencher alguma lacuna, mas para poder comunicar vida e felicidade a anjos e homens e permitir-lhes a visão da Sua glória. É certo que Ele exige a lealdade e os serviços de Suas criaturas dotadas de inteligência, mas não extrai benefício algum das suas funções; toda a vantagem redunda em favor delas mesmas: Jó 22:2-3. Ele faz uso de meios e instrumentos para realizar os Seus fins; não, porém, por deficiência de poder, mas muitas vezes para demonstrar mais extraordinariamente o Seu poder através da fragilidade dos instrumentos.

A absoluta suficiência de Deus faz dEle o objeto supremo, que sempre se há de buscar. A verdadeira felicidade consiste unicamente em fruir a Deus. Seu favor é vida, e Sua amorável bondade é mais que a vida. 'A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele' (Lamentações 3:24). As nossas percepções do Seu amor, da Sua graça, da Sua glória, são os principais objetos do desejo dos santos e os mananciais da sua mais elevada satisfação. 'Muitos dizem: quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto. Puseste alegria. no meu coração, mais do que no tempo em que se multiplicaram o seu trigo e o seu vinho' (Salmo 4:6-7). Sim, o cristão, quando em são juízo, pode dizer: 'Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas: todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação' (Habacuque 3:17-18).

Terceiro, ao se fazer um exame das perfeições de Deus, vê-se que Ele é o Soberano Supremo do universo. Tem-se dito com acerto que: 'Nenhum domínio é tão absoluto como o que se funda na criação. Aquele que bem podia não ter feito coisa alguma, tinha o direito de fazer todas as coisas de acordo com o Seu beneplácito. No exercício do Seu poder indomável, Ele fez algumas partes da criação simples matéria inanimada, de textura mais grosseira ou mais refinada, e distinguida por qualidades diferentes, mas sempre matéria inerte e inconsciente. Ele deu organização a outras partes, e as fez suscetíveis de crescimento e expansão, mas ainda destituídas de vida no sentido próprio do termo. A outras não só deu organização, mas também vida consciente, os órgãos dos sentidos, e energia para auto-motivação. A estas Ele acrescentou, no homem, o dom da razão e um espírito imortal, pelos quais o homem se junta a uma ordem mais elevada de seres localizados nas regiões superiores. Sobre o mundo que criou, Ele empunha o cetro da onipotência. '... eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra: não há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: Que fazes? — Daniel 4:34-35' (John Dick).

Uma criatura, como tal considerada, não tem direitos. Nada pode exigir do seu Criador; e, seja qual for a maneira como é tratada, não lhe compete queixar-se. Contudo, quando pensamos no absoluto domínio de Deus sobre todas as coisas e sobre todos os seres, não devemos perder de vista as Suas perfeições morais. Deus é justo e bom, e sempre faz o que é reto. Não obstante, Ele exerce o Seu domínio de acordo com o beneplácito da Sua vontade soberana e justa. Atribui a cada criatura o lugar que aos Seus olhos parece bom. Ordena as diferentes circunstâncias relacionadas com cada criatura de acordo com os Seus conselhos.

Modela cada vaso segundo a Sua determinação independente de toda e qualquer influência. Tem misericórdia de quem Ele quer ter misericórdia, e endurece a quem Lhe apraz. Onde quer que estejamos, Seus olhos estão sobre nós. Quem quer que sejamos, nossa vida e tudo mais está à disposição dEle. Para o cristão, Ele é um Pai amoroso e gentil; para o pecador rebelde, Ele continuará sendo fogo consumidor. 'Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém' (1 Timóteo 1:17).

Autor: Arthur W.Pink
Extraído do Livro - Atributos de Deus, Capítulo 17.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Buscando Verdadeiramente a Deus

 Na Carta aos Hebreus, o autor escreve: 'A Palavra de Deus é viva e eficaz' (cf. Hb 3,12a). Essa breve afirmação contém as convicções básicas com as quais devemos nos colocar diante das Sagra­das Escrituras e meditar. Em primeiro lugar, a Palavra de Deus é viva, não é 'letra morta'. Ao contrário; ela nos é dirigida hoje. Nossa tarefa é, acima de tudo, permitir que a Palavra nos fale, permitir que faça de nós cada vez mais abertos e sensíveis à sua mensagem, para aprendermos a 'arte da escuta' da qual o filósofo Martin Buber fala. Em se­gundo lugar, além de ser viva, a Palavra de Deus é eficaz. Eficaz no sentido mais pleno da palavra: transformativa. Não se satisfaz em comunicar informação, intuição, sentimentos ou até mesmo experiências religiosas a nós - embora comunique tudo isto. Sua intenção é nos recriar. Assim como no princípio Deus criou o Universo por Sua Palavra onipotente, da mesma forma pretende nos recriar, nos criar para a vida eterna, pelo poder de Sua Palavra.

Com os sacramentos, as Escrituras são o principal canal pelo qual a graça de Jesus e o Espírito Santo vêm até nós e nos moldam. Penso que seja isso o que Jesus deseja nos transmitir ao dizer que suas palavras são 'espírito e vida'. Elas infun­dem em nós o ser, o amor, a santidade de Deus e pouco a pouco nos transformam em novas criaturas. Pois as Escrituras são a Palavra de Deus; a Bíblia é revelação. Para nós, hoje, é claro que a Palavra de Deus não 'caiu do céu'; ao contrário, ela foi escrita no decorrer de muitos séculos por muitos autores com claras influên­cias de outras culturas e algumas de suas passagens foram editadas e reeditadas com o passar do tempo. Mas isso não tira nada da realidade das Escrituras como revelação. Jesus, a Palavra de Deus, veio a nós da mesma forma. Aqui, vale ler as genealogias nos evange­lhos de Mateus e de Lucas. O próprio Jesus não caiu do céu. Muitas gerações se passaram, preparando Maria e José, a mãe e o pai adotivo de Jesus e, em última instância, preparando a humanidade d'Ele. Alguns dos ancestrais de Jesus não eram do povo eleito, mas gentios. É assim que Deus trabalha. Ele vem sem alarde ao mundo.

Assim, as Escrituras são a revelação de Deus em veste hu­mana, em linguagem humana. É isso que nos permite compre­endê-las. Mas, por serem Palavra de Deus, elas devem sempre ser abordadas com veneração e reverência. Algumas vezes, meu mestre de noviços no mosteiro simplesmente segurava a Bíblia junto de seu coração no tempo de leitura da Escritura, com uma atitude de profunda reverência e um belo sorriso tranquilo. Ele havia meditado as Escrituras por muitos anos e, naquele momento, era capaz de escutá-las 'através das capas' sem ter de abrir nenhuma página em particular. Você e eu ainda não chegamos lá. Mas é lindo pensar que um dia possamos ter tama­nha intimidade e familiaridade com a Palavra de Deus.

Concretamente falando, como devemos ler as Escrituras? Há algum método a ser seguido que possibilitará que seu conteúdo nos penetre, converta e santifique? Eu diria que não há uma fórmula exata. Mas há uma sabedoria básica que a Igreja tem - e talvez a tradição monástica em particular - acerca da interação sagrada entre a Palavra viva e a pessoa. O nome desta abordagem - lectio divina - tem se tornado relativamente bem conhecido no decorrer dos últimos anos. É como os monges descrevem sua meditação das Escrituras. Signi­fica 'leitura divina' - tanto no sentido de que o conteúdo daqui­lo que é lido é divino quanto no que a própria atividade é divina: o próprio Deus falando e eu O escutando, Deus agindo dentro da minha escuta de modo que eu possa captar e assimilar e de certa forma 'tornar-me' aquilo que es­tou lendo. Em geral, o termo é considerado tão rico e com tantas nuanças, que a maioria das pessoas prefere deixá-lo no original em latim.

Para começar, a lectio divina deve iniciar-se com uma oração, uma oração ao Espírito Santo, que é a luz e sabedoria de Deus. É acerca do Espírito Santo que o Credo diz: 'Que falou pelos profetas'. Nós lhe pedimos, ao autor primário das Escrituras, que nos dê um coração dócil e sensível, a fim de nos tornar aptos a escutar exatamente aquilo que nos deseja dizer. Em seguida, simplesmente começamos a ler uma breve passagem bíblica. Lectio não é uma atividade ocasional, mas diária, então é bom haver uma continuidade entre a passagem de hoje e a de amanhã. Muitas pessoas fazem sua lectio com o texto do Evangelho da missa do dia. Isso pode ser especialmente rico a quem participa da missa diariamente se tiver a oportunidade de escutar mais tarde o mesmo texto proclamado na liturgia, que havia refletido antes. Outras pessoas escolhem um livro da Bíblia e o leem in­teiramente no decorrer de vários meses. Em ambos os casos, é importante que o texto não seja demasiado longo - nunca mais de um capítulo. A leitura é feita devagar e com uma breve pausa entre os versículos (em Florença, há um afresco maravilhoso de São Domingos fazendo lectio, com o dedo indicador nos lábios à medida que faz uma pausa para interiorizar o texto, e uma estrela sobre a cabeça, simboli­zando a graça iluminadora do Espírito Santo). Não é necessário ler até o fim da passagem do Evangelho ou do capítulo. Assim que sentir sua atenção e seu coração tocados por uma frase, uma palavra, uma imagem, é um bom lugar para parar, pois o leitor está passando do ato de ler para aquilo que se chama ruminatio.

Ruminação (ou meditação) é o demorar-se tranquilamente no texto que chamou a aten­ção do leitor. Este demorar-se geralmente ocorre por meio de uma repetição interior pacífica da palavra ou palavras que nos 'pegaram'. Posso garantir que qualquer pessoa que leia uma passagem das Escrituras devagar e pausadamente se experimen­tará atraída a determinada fra­se - senão na primeira leitura, certamente na segunda ou na terceira. Uma palavra em par­ticular nos grita: ela quer ser apropriada. Quer ser degustada e mastigada uma vez após a outra por nosso palato interior (é isso que significa ruminatio, no fim das contas). Não por meio de um processo de pensar muito, nem tentando forçar um texto a entregar os tesouros a partir da aplicação de todas as faculdades intelectuais sobre ele, mas pela receptividade representada pela repetição contínua, silenciosa ou audivelmente da palavra que nos tocou. É dessa forma que a Palavra viaja até nossas profun­dezas pessoais e daí pode evocar outros textos das Escrituras de nossa memória para criar outras associações, ou experiências do nosso passado que ainda ne­cessitem de iluminação (ainda que não tenhamos consciência disso). Ou a Palavra pode se contentar em apenas encontrar um lar dentro de nós enquanto podemos nos contentar simples­mente em ouvi-la novamente reverberar dentro de nós para nos desafiar ou nos consolar, por exemplo: 'Os teus pecados estão perdoados' (cf. Mc 2.5b).

Com frequência, passamos todo um tempo de lectio com a ruminação. Mas pode ser que a Palavra divina provoque uma profunda resposta em nós. Talvez, por exemplo, estamos focando-nos numa das bem­ aventuranças ('Bem-aventura­dos os puros de coração' [cf. Mt 5.8a]) e o desejo que tínhamos por muitos anos de ter essa bem-aventurança de repente se faz sentir e faz sair uma oração que não compusemos, mas que significa nós mesmos naquele momento: 'Ó Deus, fazei-me puro de coração'. Tal momento é chamado de oratio. É uma oração liberada pelo Espírito Santo que perscruta nosso coração.

Algumas vezes - isso não ocorre todo dia na lectio (pelo menos não comigo), mas é sempre inesquecível quando ocorre -, há a experiência da contemplatio. Aqui a Tradi­ção fala de uma contemplação unitiva - quer dizer, quando a Palavra que vinha sendo meditada se torna verdadeira­mente um evento, realidade na vida do leitor. Imagine o que aconteceria se a promessa de Jesus -  'Quem crer em mim, guardará minha palavra, meu Pai o amará e nós viremos a Ele e faremos nele nossa morada' (cf. Jo 14.23d) - se tornasse experiência de fato - se o leitor, não por um esforço, nem pela imaginação, nem por pedido, mas simplesmente no decorrer da meditação dessa palavra viesse a experimentar em seu interior a habitação do Pai e do Filho, toda a vida trinitária agindo dentro dele em vez de fora dele, e tudo isso como fruto e graça de seu contato com a Palavra viva e eficaz. Isso seria a plenitude da lectio, quando o ato de leitura se torna ato puro, quando a Escritura 'acontece'.

Porém, não devemos pensar nestes quatro momentos lectio, meditatio (ou ruminatio ), oratio, contemplatio - como um progra­ma diário a ser percorrido. Deus sabe como deseja nos tocar com a Sua Palavra e como deseja que nós respondamos a ela. O que importa é amar a Palavra de Deus e deixar que cada vez mais ela preencha não somente os nossos tempos de lectio, mas to­dos os nossos momentos. Como diz o salmista: 'Quanto eu amo, ó Senhor, a vossa lei! Permaneço o dia inteiro a meditá-la' (cf. Sl 119.97). Agora, esse seria um bom texto para a nossa lectio divina!

Autor: Dom Bernardo Bonowitz


terça-feira, 15 de junho de 2021

O Senhor Mesmo Descerá dos Céus, Romeu Bornelli

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Logo em seguida, nós, os que estivermos vivos sobre a terra, seremos arrebatados como eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E, assim, estaremos com Cristo para sempre! Consolai-vos, portanto, uns aos outros com estas palavras. 1 Tessalonicenses 4.16 a 18 



 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

O Propósito da Consagração

A consagração não visa a pregação ou o trabalhar para Deus, mas servir a Deus. A palavra “serviço” no original tem o sentido de “esperar em”, isto é, esperar em Deus a fim de poder servi-lo. A consagração não envolve necessariamente o labor incessante, pois o seu alvo é esperar em Deus. Se Ele quer que nos levantemos, então nos levantamos; se Ele quer que esperemos, nós esperamos; e se Ele deseja que corramos, nós corremos. Esse é o verdadeiro significado de “esperar” nEle.

O que Deus requer de nós é que apresentemos os nossos corpos a Ele, não com o propósito de subir ao púlpito ou de evangelizar em terras muito distantes, mas de esperar nEle. Alguns, na verdade, podem ter que aceitar o púlpito, porque eles foram mandados ali por Deus. Alguns podem ser constrangidos a ir para terras distantes, pois foram comissionados por Deus para tal. O trabalho pode variar, mas o tempo gasto permanece o mesmo toda a nossa vida. Precisamos aprender a esperar em Deus. Oferecemos os nossos corpos para que possamos ser aqueles que servem.

Uma vez que nos tornamos cristãos, devemos servir a Deus por toda a vida. Tão logo um doutor em medicina se torna cristão, a medicina passa do primeiro para o segundo lugar. O mesmo acontece com o engenheiro. A exigência do Senhor tem prioridade: servir o Senhor torna-se o maior serviço. Se o Senhor permitir, posso trabalhar como médico ou engenheiro para ganhar meu sustento, mas não poderei fazer nenhum deles “o trabalho da minha vida”. Alguns dos primeiros discípulos eram pescadores, mas depois que seguiram ao Senhor, não mais queriam ser grandes pescadores, cheios de sucesso. Era-lhes permitido pescar ocasionalmente, mas o destino deles foi alterado.

Que Deus possa ser gracioso conosco, especialmente para com os novos crentes, para que todos possamos ver como a nossa profissão foi mudada. Que todos os professores, doutores, enfermeiras, engenheiros e industriais vejam que agora a sua profissão é servir a Deus. Suas antigas profissões foram relegadas a uma posição secundária. Eles não devem ser ambiciosos demais em suas especialidades, embora o Senhor possa ainda dar a alguns deles posições especiais. Nós que servimos a Deus não podemos esperar ser prósperos no mundo, pois estas duas coisas são contrárias. Daqui em diante, devemos servir apenas Deus; não temos outro caminho ou destino.

Na consagração, a nossa oração é: “Ó Senhor, Tu me deste a oportunidade e o privilégio de me apresentar diante de Ti e servir-Te. Senhor, sou Teu. Daqui em diante meus ouvidos, mãos e pés, tendo sido comprados pelo sangue, são exclusivamente Teus. O mundo não pode usá-los mais, nem eu tão pouco os usarei mais”. Qual, então, é o resultado? O resultado será a santidade, pois o fruto da consagração é a santidade. Em Êxodo 28 temos de um lado a consagração e de outro a santidade do Senhor.

Precisamos compreender que depois de nos tornarmos cristãos, ficamos inutilizados para tudo o mais. Isso não significa que seremos menos fiéis em nossos trabalhos seculares. Pelo contrário, devemos ser submissos às autoridades e fielmente cumprir nossas tarefas. Mas vimos perante Deus que nossa vida precisa ser gasta no serviço a Deus; todos os demais serviços são secundários.

Autor: Watchman Nee
Extraído do livro - Um Sacrifício Vivo


domingo, 30 de maio de 2021

A Consagração do Poder Espiritual

Sempre que medito na cruz de Cristo, não me torno um beato interessado apenas na minha própria pureza; o meu objetivo dominante passa a ser os interesses de Jesus Cristo. O Senhor não foi um recluso nem um asceta (Pessoa que se entrega a práticas espirituais, levando vida contemplativa com mortificação dos sentidos.); Ele não se isolou da sociedade, mas o tempo todo estava isolado dela interiormente. Não se mostrava indiferente ao que se passava ao Seu redor, mas vivia ligado a outro mundo. Na verdade, achava-se tão integrado no mundo que os religiosos de Seu tempo o acusavam de glutão e bebedor de vinho. Mas o Senhor não permitiu que nada interferisse na consagração de Suas energias espirituais às coisas de Deus.

A falsificação dessa consagração é deixar de fazer certas coisas pensando com isso armazenar poder espiritual para uso posterior, mas isso é grande engano. O Espírito de Deus tem tirado o pecado de muitas pessoas, mas ainda elas não experimentaram a liberdade nem a plenitude espiritual. O tipo de vida religiosa que vemos por aí hoje é inteiramente diferente da santidade atuante que Jesus Cristo revelava. 'Não peço que os tires do mundo e sim que os guardes do mal.' Temos que estar no mundo; mas não ser do mundo; estar isolado dele interiormente, não exteriormente.

Não devemos permitir que nada interfira na consagração de nossas energias espirituais às coisas de Deus. A consagração é a nossa parte; a santificação é a parte de Deus. Temos que tomar uma firme decisão de nos interessarmos somente por aquilo que é do interesse de Deus. A maneira certa de resolver as dúvidas que surgirem em nós é aplicar a elas a pergunta: 'Será que isto é o tipo de coisa que Jesus Cristo está interessado, ou é algo que interessa ao inimigo de Jesus?'

Autor: Oswald Chambers
Extraído do Livro Tudo para Ele. Lição do dia 27 de Novembro


sábado, 15 de maio de 2021

O Senhor Guiará aos Generoso de Coração

 'E o SENHOR te guiará continuamente' Isaías 58:11

O que lhe aflige? Perdeu seu caminho? Está enredado num sinistro bosque e não pode encontrar suas trilhas? Fique quieto, e olhe a salvação de Deus. Ele conhece o caminho, e Ele lhe guiará nesse caminho quando você clamar a Ele.


Cada dia traz sua própria perplexidade. Como é doce sentir que a direção do Senhor é contínua! Se nós escolhemos nosso próprio caminho, ou consultamos com a carne e sangue, desprezamos a direção do Senhor - porém, se nós nos abstivermos de nossa obstinação, então Ele dirigirá cada passo de nosso caminho, cada hora do dia,  cada dia do ano e cada ano de nossa vida. Se nos deixamos guiar, seremos guiados. Se queremos confiar nosso caminho ao Senhor, Ele dirigirá nosso curso de tal forma que não nos perderemos.


Porém, notem para quem essa promessa está feita. Leiam o versículo anterior: 'E se abrires a tua alma ao faminto.. (v.10).' Devemos apiedar-nos de outros, e dar-lhes, não só migalhas secas de pão, mas sim das mesmas coisas que nós desejaríamos receber. Se mostrássemos um amoroso cuidado por nossos semelhantes na hora de sua necessidade, então o Senhor cuidará de nossas necessidades, e se constituirá em nosso contínuo Guia. Jesus é o Líder, não dos avarentos, nem daqueles que oprimem o pobre, mas antes, dos generosos e dos que tem terno coração. Tais indivíduos são peregrinos que nunca perderão seu caminho.


Autor: C.H. Spurgeon
Extraído do site www.projetospurgeon.com.br

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Nossas Inseguranças sobre Jesus

 “Respondeu-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com o que tirar a água, e o poço é fundo...” - João 4:11

Você já disse pra si mesmo, “Eu estou impressionado com as maravilhosas verdades da palavra de Deus, mas ELE não pode esperar de mim que eu realmente viva nesse nível e trabalhe todos esses detalhes na minha vida”! Quando se trata de confrontar Jesus Cristo na base de Suas qualidades e habilidades, nossa atitude reflete uma superioridade religiosa. Nós pensamos que Seus ideais são elevados, grandiosos demais, e isso nos impressiona, mas nós acreditamos que Ele não está em contato com a realidade – que o que Ele diz, na verdade, não pode ser feito.

Cada um de nós pensa dessa forma sobre Jesus em alguma área da nossa vida. Essas dúvidas, inseguranças e incertezas sobre Jesus começam quando nós consideramos questões que desviam nosso foco do Senhor. Enquanto nós conversamos sobre nossos negócios com Ele, outros nos perguntam: “Onde você vai arrumar dinheiro suficiente para viver? Como você vai viver ou quem vai te sustentar?”. Ou elas começam dentro de nós mesmos quando nós dizemos para Jesus que nossas circunstancias são um pouco difíceis para Ele. Nós dizemos: “É fácil dizer: Confia no Senhor, mas a gente tem que viver; e, além disso, Jesus não tem com o que tirar a água – não tem meios para ser capaz de nos dar essas coisas.” E para não exibirmos um engano religioso dizemos: “Ah, eu não tenho inseguranças sobre Jesus, apenas sobre mim mesmo.” Se somos honestos, nós vamos admitir que nós nunca temos inseguranças ou dúvidas sobre nós mesmos, porque nós sabemos exatamente o que somos capazes e incapazes de fazer. Mas nós temos sim incertezas sobre Jesus. E nosso orgulho é ferido até quando nós pensamos que Ele pode fazer o que nós não podemos.

Minhas inseguranças surgem no fato de eu procurar minuciosamente descobrir como Ele fará o que disse. Minhas dúvidas saltam das profundezas de minha própria inferioridade. Se eu detecto essas inseguranças em mim, eu deveria trazê-las à luz do Senhor e confessá-las abertamente: “Senhor, eu tenho tido duvidas e incertezas sobre o Senhor. Eu não tenho confiado em Suas habilidades, mas apenas nas minhas. Eu não tenho confiado no Seu glorioso poder à parte do meu finito entendimento sobre isso.”

Autor: Oswald Chambers

terça-feira, 11 de maio de 2021

Diminuir-me Face aos Seus Desígnios

 “Convém que ele cresça e que eu diminua.” – João 3.30.

Se você se tornar indispensável a outra pessoa estará fora do plano de Deus. Como obreiro, sua grande responsabilidade é a de ser amigo do Noivo. Quando você vir uma pessoa começando a se conscientizar das reivindicações  de Jesus Cristo, saberá que a influência que exerceu sobre ela estava certa; e, em vez de estender a  mão para poupar-lhes  dificuldades, ore para que elas se tornem dez vezes mais fortes, até que não haja mais nenhum poder nem na terra nem no inferno capaz de manter essa pessoa longe de Jesus Cristo. Muitas vezes queremos tomar o lugar de Deus, interferimos e impedimos que Ele opere; dizemos: “Isto não pode acontecer.” Em vez de nos mostrarmos amigos do noivo, nossa compaixão acaba-se tornando empecilho, e aquela pessoa poderá um dia dizer: “Fulano foi um ladrão; roubou minha afeição por Jesus  e eu perdi a visão que tinha Dele.”

Cuidado para não se regozijar com alguém por motivo errado; procure regozijar-se pelo motivo certo. “O amigo do noivo... muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que Ele cresça e que diminua.” Isto é dito com alegria e não com tristeza --- finalmente eles verão o noivo! E João diz que essa é a sua grande alegria. É o total desaparecimento do obreiro, que nunca mais tornará a ser lembrado.

Fique bastante atento para ouvir a voz do noivo na vida de alguém. Não importa que confusões, que transtornos, que declínios de saúde ela possa acarretar; assim que ouvir a voz Dele, regozije-se com  divina alegria. Muitas vezes, você poderá ver Jesus Cristo destroçar uma vida antes de salvá-la (cf. Mt 10.34).

Autor: Oswald Chambers
Extraído do Livro Tudo para Ele. Lição do dia 24 de Março.


quarta-feira, 21 de abril de 2021

Onde Está o Teu Tesouro?

 ''Não acumuleis tesouros sobre a terra... mas ajuntai tesouros no céu ... porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração'' (Mt 6:19-21).

O coração está onde o tesouro está: num cofre ou no céu, mas não pode estar nos dois lugares. Alguém disse: 'Um cristão ou deixa sua riqueza ou se agarra a ela'. A ordem do Senhor Jesus para Seus discípulos foi de não acumular tesouros na terra, pois Ele queria que seus corações estivessem no céu.

No entanto este ensinamento de Cristo parece radical, extremista para nós hoje. Será que Ele quis realmente dizer isso? O bom senso não nos ensina a fazer provisões adequadas para a nossa velhice? Ele não espera que sejamos prudentes no sentido de reservar algo para qualquer eventualidade, ou para cuidar da nossa família?

Estas são perguntas sérias que devem ser encaradas com firmeza e honestidade por todos os crentes no Senhor Jesus. Quais são as respostas? O que a Bíblia ensina sobre a riqueza na vida do crente?

É errado construir uma fortuna pessoal? Qual é o padrão de vida?

I. TRABALHAR DILIGENTEMENTE
1. Podemos todos concordar que a Bíblia não proíbe dinheiro. O apóstolo Paulo trabalhava como fabricante de tendas para suas necessidades pessoais (At 18:1-3; 2 Ts 3:8). Ele ensinou que se um homem não estivesse disposto a trabalhar, os irmãos deveriam deixar que ele passasse fome (2 Ts 3:10). Sem dúvida, a ênfase bíblica é que um homem deve trabalhar diligentemente para o suprimento de suas necessidades e das necessidades de sua família.

Podemos dizer então que um crente pode fazer tanto dinheiro quanto possível? Não, a Palavra de Deus não diz bem assim. Ele pode ganhar tanto quanto possível, mas com as seguintes reservas:
(a) Não deve permitir que o seu trabalho tome prioridade sobre as coisas do Senhor. Sua primeira obrigação, é buscar o reino de Deus e a Sua justiça (Mt 6:33). A adoração e o serviço a Deus não devem sofrer por causa da pressão dos negócios. 

(b) Suas obrigações familiares não podem ser negligenciadas  (1 Tm 5:8). Normalmente, quanto  mais dinheiro o homem ganha, tanto menos tempo ele tem para a sua esposa e filhos. Ele não pode compensar esta falta dando a eles luxo e riqueza; isso somente aumenta sua queda espiritual e moral. Eles precisam muito mais da companhia e da liderança de um esposo e pai dedicado, do que de uma farta conta bancária. Seu dinheiro deve ser ganho em negócio honesto 'O trabalho do justo conduz à vida; a renda do ímpio, para o pecado' (Pv 10:16).

Isso nem precisaria ser dito. É um fato questionável se um cristão empregar seu tempo para a produção, distribuição ou propaganda de artigos que prejudicam a saúde ou contribuem para a queda da moral. Nem deve um crente gastar seu tempo promovendo diversões para pessoas que estão a caminho do inferno. O trabalho deve ser construtivo e para o bem comum.

(c) Além disso, o crente deve ter: certeza de que está ganhando seu dinheiro honestamente: 'Suave é ao homem o pão da mentira; mas depois a sua boca se enche de pedrinhas' (Pv 20:17) Seu negócio pode ser bem conceituado, mas seus métodos podem ser desonestos:
c-a) Sonegar imposto de renda
c-b) Pesos enganosos
c-c) Subornar inspetores locais
c-d) Divulgar diferença em produtos quando tal diferença não existe
c-e) Falsificar relatórios de despesas
c-f) Fazer especulações no mercado de ações - isto é simplesmente outra forma de jogo.
c-g) Pagar salários inadequados aos empregados.

É contra este abuso que Tiago proclama: 'Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até os ouvidos do Senhor dos exércitos' (Tg 5:4)

5. O cristão pode ganhar tanto dinheiro quanto puder, sem se tornar ganancioso Ele nunca deve se tomar um escravo de Mamom ou das riquezas (Mt 6:24) É certo ganhar dinheiro mas não amá-lo. (Sl 62:10). Concluindo, um cristão pode ganhar tanto dinheiro quanto puder, contanto que ele dê a Deus o primeiro lugar, que cumpra suas obrigações, familiares, que trabalhe de forma construtiva, cuide de sua família, negocie honestamente e evite a ganância.

Texto selecionado por Delcio Meireles

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Mal Entendido

“Vamos outra vez para a Judéia. Disseram-lhe os discípulos... voltas para lá?” João 11:7 e 8

Posso até não compreender o que Jesus Cristo diz, mas é arriscado dizer, em razão disso, que Ele pode estar enganado no que disse. É sempre absurdo pensar que um ato meu de obediência a uma ordem de Deus possa trazer desonra a Jesus. A única coisa que O desonra é não Lhe obedecer. Nunca é certo deixar que minha opinião sobre a Sua honra tome o lugar que Ele está claramente me impelindo a fazer, embora isso possa nascer de um autêntico desejo de impedir de que Ele seja envergonhado. Sabemos quando uma ordem vem de Deus por causa de Sua calma insistência. Quando, ao pesar os prós e os contras, surgem duvidas e questionamentos, isso indica que acrescentamos dados que não são de Deus, o que me leva a concluir que a ideia não procede. Muitos de nós somos leais às nossas ideias acerca de Jesus Cristo, mas quando nós somos leais a Ele? Ser leal a Jesus significa que tenho de dar um passo à frente sem ver onde estou pisando (Mt 14:19); ser leal às minhas idéias significa que primeiro avalio tudo com a minha inteligência; fé é uma deliberada entrega de si mesmo a uma Pessoa, quando não estou enxergando nada.

Você está em duvida se deve dar um passo pela fé em Jesus ou esperar até que possa ver como fazer a coisa por si mesmo? Obedeça-Lhe alegre e despreocupadamente.
Quando Ele diz alguma coisa e você começa a questionar, é porque a sua concepção a respeito da honra de Cristo é diferente da dEle. Você é leal a Jesus, ou leal às ideias que tem dEle? Você é leal ao que Ele diz, ou está tentando fazer concessões a conceitos que jamais vieram dEle? “Fazei tudo o que Ele vos disser.” 

Autor: Oswald Chambers
Extraído do Livro Tudo para Ele. Lição do dia 28 de Março.

terça-feira, 30 de março de 2021

Conselhos para Líderes na Casa de Deus

Aprendam a amar os outros, a pensar no bem deles, a ter cuidado por eles, a negar-se a si próprios por causa deles e a dar a eles tudo o que têm. Se alguém não consegue negar-se a si próprio em beneficio dos outros, ser-lhe-á impossível conduzir alguém no caminho espiritual. Aprendam a dar aos outros o que você tem, ainda que se sinta como se nada tivesse. Então o Senhor começará a derramar-lhe a Sua bênção. (1)

A força interior de um líder deveria equivaler à sua força exterior. Esforços em demasia, avanços desnecessários, inquietações, apertos, tensões, falta no transbordar, planos humanos e avanços na frente do Senhor, são todas as coisas que não devem ocorrer. Se alguém está cheio de abundância em seu interior, tudo o que emana dele é como o fluir de correntes de águas, e não existem esforços demasiados de sua parte. É preciso ser de fato um homem espiritual, e não simplesmente se comportar como um. (2)

Ao fazer a obra de Deus aprenda a ouvir os outros. O ensinamento de Atos 15 consiste em ouvir, isto é, ouvir o ponto de vista de outros irmãos porque o Espírito Santo poderá falar por meio deles. Seja cuidadoso, pois ao recusar ouvir a voz dos irmãos, você poderá estar deixando de ouvir a voz do Espírito Santo. Todos aqueles envolvidos em liderança devem assentar-se para ouvi-los. Dê a eles oportunidades ilimitadas de falar. Seja gentil, seja alguém quebrantado e esteja pronto para ouvir. (3)

O problema de muitos líderes é não estarem quebrantados. Pode ser que tenham ouvido muito, a respeito de serem 'quebrantados' porém não possuem revelação dessa verdade. Se alguém está quebrantado, não tentará chegar as suas próprias decisões no que toca a questões importantes ou aos ensinamentos, não dirá que é capaz de compreender as pessoas ou de fazer coisas, não ousará tomar para si a autoridade ou impor a sua própria autoridade sobre os outros, nem aventurar-se-á a criticar os irmãos ou tratá-los com presunção. Um irmão quebrantado não tentará auto defender-se nem remoer-se por algo que ficou para traz. (4)

Não deve existir nas reuniões nenhuma tensão, tampouco na Igreja. Com respeito às coisas da Igreja aprenda a não fazer tudo você mesmo. Distribua as tarefas entre os outros e os leve a aprender a usar suas próprias capacidades de executar. Em primeiro lugar, você deve expor-lhes resumidamente os princípios fundamentais a seguir e depois se certificar de que agiram de acordo. É um erro você fazer muita coisa. Evite também aparecer demais na reunião, caso contrário os irmãos poderão ter a sensação de que você está fazendo tudo sozinho. Aprenda a ter confiança nos irmãos e a distribuí-la entre eles. (5)

O Espírito de Deus não pode ser coagido na Igreja. Você precisa ser submisso a Ele pois, caso contrário, quando Ele cessar de ungi-lo a Igreja se sentirá cansada ou até mesmo enfadada. Se o meu espírito estiver forte em Deus, ele alcançará e tomará a audiência em dez minutos; se estiver fraco não adiantará gritar palavras estrondosas ou gastar um tempo mais longo, o que inclusive com certeza será prejudicial. (6)

Ao pregar uma mensagem, não a faça demasiadamente longa ou trabalhada, caso contrário o espírito dos santos sentir-se-á enfadado. Não inclua pensamentos superficiais ou afirmações rasteiras no conteúdo da mensagem; evite exemplos infantis, bem como raciocínios passíveis de serem considerados pelas pessoas como infantis. Aprenda concluir o ponto alto da mensagem dentro de um período de meia hora. Não imagine que, o fato de estar gostando de sua própria mensagem, significa que as suas palavras são necessariamente de Deus. (7)

Uma tentação com que frequentemente nos deparamos numa reunião de oração é querer liberar uma mensagem ou falar por tempo demasiado. Uma reunião de oração deve ser consagrada a oração, muito falatório levará à sensação, de sentir-se pesado, com o que a reunião se tornará um fracasso. (8)

Os obreiros precisam aprender muito, antes de assumirem uma posição onde tenham de lidar com problemas ou com pessoas. Com um aprendizado inadequado, um conhecimento insuficiente, um quebrantamento incompleto e um juízo não digno de confiança, serão incompetentes para lidar com os outros. Não tire conclusões precipitadas; mesmo quando se está prestes a fazer algo deve-se fazê-lo com temor e tremor. Nunca trate com leviandade as coisas espirituais. Pondere as no coração. (9)

Aprenda a não confiar unicamente em seus próprios juízos. Aquilo que consideras correto pode ser errado e aquilo que consideras errado pode ser correto. Se alguém está determinado a aprender com humildade, levará, com certeza, alguns poucos anos para terminar de fazê-lo. Portanto, por enquanto, você não deve confiar demasiadamente em si mesmo ou estar muito seguro a respeito, do seu modo de pensar. (10)

É perigoso para as pessoas da Igreja seguirem as suas decisões antes de você ter atingido o estado de maturidade. O Senhor operará em você para tratar seus pensamentos e para quebrantá-lo antes que você possa compreender a vontade de Deus e ser definitivamente ‘autoridade de Deus' - A autoridade se baseia no conhecimento da vontade de Deus. Onde não estiver sendo manifestado a vontade e o propósito de Deus, ali não há autoridade de Deus. (11)

A capacidade de um servo de Deus com certeza será expandida porém pelo mesmo Deus que o capacitou. Descanse em Deus, ame-o de todo o coração. Jesus disse 'sem mim nada podereis fazer'. A autoridade necessária para o desempenho do ministério é fruto de nosso relacionamento. Nunca olhe para dentro de você mesmo pois isso poderia desanimá-lo, porem, jamais abra mão da:
- Intimidade com Deus, e
- O conselho dos sábios que Deus colocou na Igreja.

'Não fostes vós que me escolhestes, porém Eu vos escolhi a vós e vos designei para que vades e deis frutos e o vosso fruto permaneça afim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vos conceda' Jo 15:16.

Autor: Watchman Nee 
Extraído do livro 'O Testemunho de Watchman Nee' - são partes de uma carta escrita em 10/03/1950 durante o período de vinte anos em que permaneceu preso pelo Regime Comunista Chinês.

quinta-feira, 25 de março de 2021

A Rebeldia no Homem

As armas com as quais lutamos não são humanas: ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo. E estaremos prontos para punir todo ato de desobediência, uma vez estando completa a obediência de vocês. (2 Coríntios 10.46)

O Elo entre o Raciocínio e o Pensamento
O homem manifesta sua rebeldia não apenas em palavras e raciocínio, mas também em pensamentos. Palavras rebeldes brotam do raciocínio rebelde, e o pensamento, por sua vez, trama o raciocínio. Portanto, o pensamento é o fator central na rebeldia. Uma das mais importantes passagens da Bíblia é 2 Coríntios 10.4-6, porque, nesses versículos, destaca-se a área da vida do homem na qual se exige obediência a Cristo. O versículo 5 diz”[...] levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo”. Isso dá a entender que a rebeldia do homem se encontra basicamente no pensamento.

Paulo menciona que devemos destruir argumentações e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus. O homem gosta de edificar raciocínios como fortalezas à volta de seu pensamento, mas tais raciocínios devem ser destruídos, e o pensamento deve ser levado cativo. As argumentações devem ser deixadas de lado, mas o pensamento deve ser reconduzido. Na guerra espiritual, as fortalezas devem ser tomadas de assalto para que o pensamento seja levado cativo. Se as argumentações não forem descartadas, não há como reconduzir o pensamento do homem à obediência de Cristo.

A palavra “pretensão”, no versículo 5, significa “edifício alto” no original. Do ponto de vista de Deus, as argumentações humanas são como um arranha-céu, pois obstrui o conhecimento de Deus. Logo que o homem começa a raciocinar, seus pensamentos ficam sitiados, e ele perde a liberdade de obedecer a Deus, uma vez que a obediência é uma questão de pensamento. A razão expressa-se externamente em palavras, mas, quando as argumentações se escondem no interior do ser humano, cercam o pensamento e o paralisam, para que não obedeça. O hábito de argumentar é tão sério que não pode ser resolvido sem uma batalha.

Mas Paulo usou a razão para lutar contra a razão. A inclinação mental para argumentar deve ser derrotada com armas espirituais, isto é, o poder de Deus. É Deus que luta contra nós, pois nos tornamos seu inimigo. Nosso hábito mental de argumentar é algo que herdamos da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas como são poucos os que percebem quantos transtornos nossa mente cria para Deus! Satanás emprega toda sorte de argumentações para nos escravizar, a fim de que nos tornemos inimigos de Deus em vez de submissos a Ele.

O texto de Gêneses 3 exemplifica 2 Coríntios 10. Satanás argumentou com Eva, e Eva, percebendo que a árvore era boa para alimento, reagiu com argumentação. Ela não deu ouvido a Deus, pois tinha suas razões. Quando o raciocínio aparece, o pensamento do homem cai em uma armadilha. O raciocínio e o pensamento estão totalmente ligados; o primeiro tende a derrotar o segundo. E, quando o pensamento é levado cativo, o homem encontra-se impossibilitado de obedecer a Cristo. Portanto, podemos concluir que, se realmente desejamos obedecer a Deus, devemos saber como a autoridade Dele destrói as fortalezas da razão.

Recapturando a Mente Cativa
No novo testamento grego, a palavra noema (noemata no plural) é usada seis vezes: Filipenses 4.7; 2 Coríntios 2.11, 3.14, 4.4, 10.5 e 11.3. Em português é traduzida por “entendimento”, “intenções”, “mente”, “argumento”, e o significado é desígnios da mente. A “mente” é a faculdade; o “desígnio” é sua ação – o produto da mente humana. O homem, por meio da faculdade da mente, pensa e decide livremente, e isso representa o próprio homem. Assim, se alguém deseja preservar sua liberdade, deve dizer que todos os seus pensamentos são bons e corretos. Não se atreve a expô-los a interferência e, portanto, deve cercá-los com muitas argumentações. Eis por que os homens falham em crer no Senhor: ficam, habitualmente, aprisionados na fortaleza de alguma argumentação.

Um incrédulo pode dizer: “Vou esperar até ficar bem velho”; ou: “Muitos cristãos não se comportam bem. Por isso não posso crer”; ou: “Ainda não. Vou esperar até que meus pais morram”. Semelhantemente, há razões que os cristãos apresentam para não amar ao Senhor: os estudantes dirão que estão ocupados demais com seus estudos; os homens de negócios ocupados demais com seus negócios; o doente acha que sua saúde é fraca demais, e assim por diante. Se Deus não destruir essas fortalezas, os homens jamais ficarão livres. Satanás aprisiona os homens utilizando a fortaleza dos argumentos. A maioria dos homens coloca-se atrás de tantas linhas de defesa que são incapazes de atravessá-las para a liberdade. Só a autoridade de Deus pode levar cativo cada pensamento para obedecer a Cristo.

Para reconhecer a autoridade, as argumentações humanas devem ser primeiramente lançadas ao chão. Só depois que o homem começa a ver que Deus é Deus, conforme declarado em romanos 9, é que suas argumentações são destruídas. E quando as fortalezas de Satanás são destruídas, nenhuma argumentação permanece, e os pensamentos humanos podem ser, portanto, levados cativos, para que obedeçam a Cristo. Só depois que os pensamentos são recapturados é que o homem pode verdadeiramente obedecer a Cristo.

Podemos perceber se alguém já tomou conhecimento da autoridade observando se suas palavras, seus argumentos e pensamentos já foram devidamente reestruturados. Quando uma pessoa depara com a autoridade de Deus, sua língua não se atreve a se agitar livremente, suas argumentações e, ainda mais profundamente, seus pensamentos já não podem mais ser livremente expressos. Naturalmente, o homem tem numerosos pensamentos, todos fortalecidos com muitas argumentações. Mas chega o dia em que a autoridade de Deus derruba todas as fortalezas da argumentação que satanás levantou e recaptura todos os pensamentos do homem, para torná-lo escravo espontâneo de Deus. Por conseguinte, já não pensa mais independentemente de Cristo: é totalmente obediente a Ele. Isso é libertação total.

Aquele que ainda não tomou conhecimento da autoridade geralmente aspira a ser conselheiro de Deus. Tal pessoa não tem, ainda, os pensamentos cativos a Deus. Aonde quer que vá, seu primeiro pensamento é como descobrir como melhorar a situação. Seus pensamentos jamais foram disciplinados, pois são muitas e incessantes suas argumentações. Devemos permitir que o Senhor faça em nós uma operação de corte, penetrando nas profundezas de nosso pensamento até que sejam todos levados cativos por Deus. Depois disso, reconheceremos a autoridade de Deus e não nos atreveremos a livremente argumentar ou aconselhar.

Agimos como se existissem duas pessoas no universo que são oniscientes: Deus e eu. Eu sou um conselheiro que sabe tudo! Tal atitude indica claramente que meus pensamentos precisam ser levados cativos, que não sei nada sobre autoridade. Se eu fosse alguém cujas fortalezas da argumentação estivessem realmente tomadas pela autoridade de Deus, não ofereceria mais conselhos nem teria interesse em fazê-lo. Meus pensamentos ficariam subordinados a Deus, e eu já não seria mais uma pessoa livre. (A liberdade natural é o solo para o ataque de satanás e deve ser renunciada.) Eu deveria estar pronto a ouvir. Os pensamentos do homem são controlados por um destes dois poderes: pela argumentação ou pela autoridade de Cristo. Na verdade, ninguém neste universo pode exercer livremente sua vontade, porque é cativo ou das argumentações ou de cristo. Por conseguinte, ou serve a Satanás ou serve a Deus.

Observando-se o seguinte, é fácil perceber se uma pessoa reconhece ou não a autoridade:
1) se ela pronuncia palavras rebeldes,
2) se argumenta diante de Deus e
3) se emite muitas opiniões.

A derrota da argumentação é simplesmente o aspecto negativo; o positivo é ter todos os pensamentos cativos para obedecer a Cristo, de modo que a opinião pessoal não mais se manifeste. Antes, tinha muitos argumentos para sustentar meus muitos pensamentos; agora não tenho mais nenhum argumento, pois fui capturado. O cativo não tem liberdade. Quem prestaria atenção a opinião de um escravo? O escravo deve aceitar os pensamentos de outra pessoa sem jamais emitir opinião própria. Portanto, nós, que fomos capturados por Cristo, estamos prontos a aceitar os pensamentos de Deus, em vez de oferecer qualquer conselho que seja nosso.

Advertências aos Teimosos
1. PAULO 
Paulo, em seu estado natural, era uma pessoa inteligente, capaz, sábia e racional. Sempre descobria um meio de resolver as coisas, era confiante e servia a Deus com todo entusiasmo. Mas, quando liderava um grupo de pessoas a caminho de Damasco para ali aprisionar os cristãos, foi levado ao chão por uma grande luz. Naquele momento, todas as suas intenções, meios e capacidade foram dissolvidos. Não retornou a Tarso nem voltou a Jerusalém. Não só abandonou sua tarefa em Damasco, como também jogou fora todos os seus motivos para a empreitada.

Muitas pessoas, quando encontram dificuldades, mudam de direção, tentando primeiro um caminho e, depois, outro. Mas, não importa o que façam, continuam agindo de acordo com suas ideias e meios. São tolas e não caem com o golpe desferido por Deus. Embora Deus, nesse assunto em particular, as deixe prostradas, não aceitam a derrota de suas argumentações e pensamentos. Assim, a estrada para Damasco pode ficar realmente bloqueada para elas, enquanto prosseguem sua viagem para Tarso ou para Jerusalém.

Não foi o que aconteceu com Paulo. Uma vez abatido, perdeu tudo. Não podia mais dizer nem pensar coisa alguma. Não sabia mais nada. “Que devo fazer, Senhor”, perguntou. Encontramos aqui alguém cujos pensamentos foram levados cativos pelo Senhor e que obedeceu do fundo de seu coração. Antes, Saulo de Tarso, fossem quais fossem as circunstâncias, sempre liderava. Agora, ao tomar conhecimento da autoridade de Deus, seus argumentos sumiram. A principal evidência de que a pessoa entrou em contato com Deus está no desaparecimento de seus argumentos e de sua esperteza. Peçamos honestamente a Deus que nos conceda a perplexidade produzida pela luz. Paulo parecia dizer: “Sou um homem que foi levado cativo por Deus e, portanto, agora sou seu prisioneiro. Chegou a hora de ouvir e obedecer, não de pensar e decidir”.

2. REI SAUL
O rei Saul foi rejeitado por Deus não porque roubasse, mas porque poupou o que havia de melhor entre os bois e ovelhas para sacrificá-los ao Senhor. Foi algo que brotou de sua mente – ideias próprias sobre como agradar a Deus. Sua rejeição ocorreu porque seus pensamentos não foram capturados por Deus. Ninguém poderá dizer que o rei Saul não foi zeloso em servir a Deus. Não mentiu, uma vez que realmente poupou o melhor entre o gado e as ovelhas. Mas tomou por si mesmo uma decisão (v. 1 Samuel 15).

A inferência é clara: todos os que servem a Deus devem, categoricamente, refrear decisões com base em pensamentos próprios; antes, devem executar a vontade de Deus. Precisam dizer, cheios de expectativa: “Que devo fazer, Senhor?”. Dizer mais que isso seria totalmente errado. A obediência é melhor que o sacrifício. Não temos absolutamente o direito de oferecer conselhos a Deus.

Quando o rei Saul viu aquelas ovelhas e o gado, desejou poupá-los da morte. Seu coração talvez se inclinasse para Deus, mas lhe faltava o espírito de obediência. Um coração que se inclina para Deus não pode substituir a atitude de “não me atrevo a dizer coisa alguma”. Uma oferta de gorduras não pode suplantar o “não dar opinião”. O rei Saul, ao se recusar a destruir todos os amalequitas, com suas ovelhas e gado, conforme Deus ordenara, foi sentenciado a ser morto por um amalequita. E foi assim que seu governo terminou. Ele foi morto por um amalequita! Todo aquele que, em seu pensamento, poupa um amalequita, será finalmente aniquilado por ele.

3. NADABE E ABIÚ
Nadabe e Abiú rebelaram-se quanto à oferta porque deixaram de se sujeitar à autoridade de seu pai. Tentaram executar ideias próprias. Pecaram contra Deus, oferecendo fogo estranho. Assim, ofenderam a administração divida. Embora não falassem nenhuma palavra nem apresentassem motivos, ainda assim, pondo em prática ideias e sentimentos próprios, queimaram incenso. Acharam esse culto alternativo uma coisa boa. Se errassem, seria apenas tentando fazer uma coisa boa- isto é, servindo a Deus. Acharam que tal pecado seria insignificante. Não sabiam que seriam totalmente rejeitados por Deus e punidos com a morte.

O Testemunho do Reino Apresentado por Meio da Obediência
Deus não considera o fervor de nossa pregação ou a disponibilidade de espírito para sofrer por Ele. Ele olha para ver até que ponto somos obedientes. O reino de Deus começa quando há absoluta obediência a Deus – nenhum pronunciamento de opinião, nenhuma apresentação de argumentos, nenhuma murmuração, nenhuma injúria. Por esse dia glorioso, Deus tem esperado desde a criação do mundo. Embora Deus tenha seu Filho primogênito, as primícias da obediência, está aguardando os muitos filhos semelhantes ao primogênito. Sempre que, neste mundo, surge uma igreja que verdadeiramente obedece à autoridade de Deus, há o testemunho do reino, e satanás é derrotado. Satanás não tem medo de nosso trabalho enquanto agimos sobre o principio da rebeldia. Apenas ri, secretamente, quando fazemos a coisas de acordo com nossos pensamentos.

A lei mosaica declara que a arca deveria ser carregada por levitas, mas filisteus enviaram a arca de volta a Israel sobre um carro puxado por bois. Davi, ao transportar a arca para sua cidade, deixou de consultar a Deus. Em vez disso, ordenou, por conta própria, que a arca fosse transportada por um carro de bois. Os bois tropeçaram e a arca começou a cair. Uzá estendeu a mão na direção da arca para segurá-la. Instantaneamente, foi morto por Deus. Mesmo que a arca não tivesse caído, não se encontrava, como deveria, sobre os ombros dos levitas, mas sobre um carro de bois. Numa ocasião anterior, quando a arca foi carregada pelos levitas através do rio Jordão, ela esta segura e protegida, apesar do transbordamento do rio. O contraste mostra-nos que Deus quer que lhe obedeçamos, não que lhe façamos sugestões. Deus deve esvaziar-nos primeiro, para que sua vontade seja executada sem interferência. O modo de servir, se acrescentamos pensamentos humanos, fica para sempre obstruído. Deus deve governar; os homens não devem dar conselhos.

Por isso os pensamentos humanos devem ficar totalmente de fora. No passado, encontramos a liberdade vivendo segundo nossa vontade; agora, encontramos a verdadeira liberdade, pois nossos pensamentos foram levados cativos por Deus. Ao perder nossa liberdade, obtemos a verdadeira liberdade no Senhor

“E estaremos prontos para punir todo ato de desobediência, uma vez estando completa a obediência de vocês” (2 Coríntios 10.6). A obediência perfeita só é possível depois que os pensamentos são recapturados. Aquele que ainda se inclina a oferecer conselhos a Deus não é totalmente obediente. O Senhor estará pronto a vingar toda desobediência quando nossa obediência estiver completa. Se nós, na qualidade de cristãos, podemos nos transformar totalmente quanto à obediência absoluta a Deus, temendo nossas ideias e opiniões, então Deus será capaz de manifestar sua autoridade sobre a terra. Como esperar que o mundo seja obediente, se a igreja não obedece? Uma igreja desobediente não pode esperar que os incrédulos obedeçam ao evangelho. Mas, com uma igreja obediente, também surgirá a obediência ao evangelho.

Todos nós devemos aprender a aceitar a disciplina, para que nossa boca seja instruída no sentido de não falar levianamente, nossa mente, a não argumentar, nosso coração, a não oferecer conselho. O caminho da glória está exatamente à nossa frente. Deus há de manifestar sua autoridade sobre a terra.

Autor: Watchman Nee
Extraído do livro Autoridade Espiritual


terça-feira, 16 de março de 2021

O Poder do Alto

“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. (At 1:8).

A maior necessidade da natureza humana é o poder. O homem é mais fraco do que qualquer outra criatura. O filhote do tigre pode cuidar de si mesmo, mas o ser humano gasta um terço de seu tempo habitual de vida até que alcance maturidade. Ele é vítima de todos os elementos que o cercam e moralmente é ainda mais fraco. Em seu coração há elementos do mal que o arrastam para baixo, e à sua volta milhares de influências que o conduzem ao erro, mas há infinito conforto na abençoada segurança das Escrituras Sagradas; “Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios”. (Rm 5:6).

O evangelho é uma mensagem de poder. “Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego”. (Rm 1:16). É ministério especial do Espírito Santo dar poder do alto.


Este é o Poder de uma Pessoa

A tradução correta destas palavras é: Você receberá não somente poder, mas o poder do Espírito Santo quando Ele vier sobre você. Não é seu poder, mas poder dEle. Não é poder abstrato sob seu controle, mas uma Pessoa cuja presença em você é necessária para que você possua e retenha poder.

Ele tem o poder e você O tem. Na ciência da eletricidade foi descoberto que a melhor forma na qual o poder desta energia motora pode ser usado para mover os bondes na rua não é através de baterias, mas através de fios aéreos. A energia não é armazenada no bonde, mas no gerador e no fio, o bonde apenas a toma de cima pelo contato constante. No momento em que ele deixa seu contato o poder se vai. O poder não está dentro do bonde, mas no cabo, e o poder do Espírito Santo é o poder do alto. Não é nosso poder, mas Seu poder, recebido dEle a cada momento.

A fim de receber este poder e retê-lo há algumas condições que se fazem necessárias. Uma delas é que devemos obedecê-Lo e seguir Sua direção. Somente podemos ter Seu poder no alinhamento da Sua vontade. O bonde somente pode tirar energia do cabo à medida que segue o trilho. Ele pode ter a energia para rodar ao longo da ferrovia, mas não pode tê-la para rodar nas vizinhanças e seguir a vontade caprichosa do motorneiro. O Espírito Santo é dado àqueles que O obedecem, e obediência ao Espírito Santo é uma coisa muito maior do que muitos sonham.

Não é simplesmente guardar-se de fazer o errado na esfera de algum pequeno compromisso; mas é entender e seguir toda a vontade e propósito de Deus no uso desta concessão Divina. Não podemos tê-La para nossa própria satisfação. Não podemos tê-La para nossa própria satisfação nem mesmo no método do nosso trabalho Cristão. Somente podemos desfrutar da plenitude do Espírito desde que usemos esta plenitude para a obra para a qual Ele tem nos chamado. 

Este verso é a medida e o limite do poder do Espírito. Ele é dado para que sejamos testemunhas de Cristo, “até os confins da terra”.

Nós só podemos conhecer a plenitude do poder do Espírito quando o usamos para pregar o evangelho para o mundo todo. Somente na tropa combatente de evangelização do mundo e no cumprimento de nossa grande responsabilidade a igreja de Deus pode compreender o mais alto significado da promessa do Pentecostes.


Ele é o Poder do Caráter Santo

Ele não é primeiramente o poder para o serviço, mas é o poder para receber a vida de Cristo; poder para ser, mais do que para dizer ou fazer. Nosso serviço e testemunho serão resultados de nossa vida e experiência. Nosso trabalho e palavras devem emergir do mais íntimo do nosso ser ou terá pouco poder ou eficácia. Devemos ser verdadeiros em nós mesmos, se quisermos ensinar a verdade.

A mudança produzida pelo batismo do Espírito Santo sobre os primeiros discípulos foi mais marcante em suas vidas do que em seu serviço e testemunho. Pedro, o discípulo hesitante, sempre correndo à frente de Seu Mestre, se jactando em sua autoconfiança do que deveria ou não fazer, e por isto fugiu da ameaça de uma criada, foi transformado num herói destemido que se pôs diante dos assassinos do Seu Senhor e os acusou de seu crime. Então, com espírito modesto e coração humilde, seguiu em frente para andar nos passos de Seu Mestre e finalmente morrer sobre a cruz do Seu Mestre. Este é o maior milagre em sua vida pessoal, mais do que o extraordinário poder de seu testemunho público.

O espírito de amor desinteressado que conduziu à total consagração de todos os seus recursos para o serviço de Cristo e à ajuda de uns aos outros, foi o exemplo que não poderia falhar em impressionar o mundo cético e egoísta. A enorme graça que estava sobre todos eles era mais maravilhosa do que o grande poder com o qual testificavam da morte e ressurreição de Jesus Cristo. A heroica fortaleza com a qual suportaram os sofrimentos incomparáveis, “regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus” (At 5:41), era uma exibição de poder que nenhum homem podia negar; eles carregavam um peso de convicção que nada podia contradizer.

Este é o poder que a igreja necessita hoje para convencer um mundo descrente, o poder que não fará de nós apóstolos inspirados, mas “cartas vivas, conhecidas e lidas por todos” (II Co 3:2). Nada é tão forte quanto a influência de um caráter consistente, sobrenatural e santo.


Ele é o Poder da Verdade
O Espírito Santo trabalha através das Escrituras Sagradas, assim o batismo do Pentecostes foi claramente identificado com o poder da Palavra. A primeira coisa que Pedro fez depois que o Espírito Santo veio foi citar as Escrituras e explicar a manifestação da própria Palavra inspirada de Deus. Foi um sermão escritural usado nas extraordinárias conversões daquele dia.

Se você observar cuidadosamente as diversas mensagens dos apóstolos, descobrirá que em todos os casos eles fizeram grande uso da Bíblia, e algumas das suas mensagens são simplesmente afirmações da Escritura e citações do Velho Testamento. O Espírito Santo concedeu as Sagradas Escrituras e nunca desonrará Sua própria mensagem. Quanto mais sabemos sobre Ele mais honraremos Sua Palavra. A Bíblia precisa ser sempre o fundamento do poder espiritual e o instrumento do serviço espiritual; mas isso sempre no poder do Espírito. “A letra mata, mas o Espírito vivifica” (Jo 6:63).

Este é o poder do Espírito Santo, falando a verdade em amor, a Bíblia inflamada com fogo santo, a Palavra de Deus dissolvida em unção e amor, até que possa ser cumprida em cada elemento essencial do nosso ser e se torne o nutriente de nossa vida.


Ele é o Poder do Amor
O batismo do Pentecostes foi um batismo do amor. Ele trouxe um amor por Deus que aniquilou o poder do ego. “Ninguém dizia que coisa alguma das que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (At 4:32). Seus tesouros mais valorosos eram rendidos a Deus. Suas propriedades e seus lares eram empregados no serviço da igreja de Cristo. Amavam uns aos outros e estavam tão absolutamente ligados que formavam uma corporação. Não havia divisão ou lugar possível para paralisia ou mutilação de todo o corpo de Cristo. Hoje a igreja de Cristo está quebrada em pedaços. Aqui e ali encontramos um membro eficiente, mas a totalidade do corpo está mutilada e dividida, de tal forma que não é possível para o Espírito fluir com indivisível e desimpedida plenitude através do todo. Consequentemente nós não temos os dons do Espírito na mesma medida como no dia do Pentecostes. O corpo está carregando com ele enfermidade e membros dilacerados, tomando o poder daqueles que estão sadios para conduzir os que estão quebrados.

O que nós precisamos hoje é do batismo com o Espírito Santo, e então a união virá devido à unidade, e não precisaremos de nossos púlpitos e nossas convocações para reunir o corpo, mas osso a osso, membro a membro e coração a coração estará na “unidade do Espírito”, e a Igreja de Jesus Cristo será “formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército com bandeiras”. (Ct 6:10).

O batismo do Espírito Santo sempre trará um espírito de amor. Ele encherá o coração com devoção e dedicação a Deus, com terna consideração uns pelos outros, com amor e respeito pelo nosso irmão, com desejo intenso pela salvação das almas e com brandura e pureza para com todos os homens. 

Autor: A.B.Simpson
Do livro 'O Espírito Santo ou Poder do Alto'.


quarta-feira, 3 de março de 2021

O Espírito da Verdade

“Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade”, disse o Senhor aos Seus discípulos. O nome deste “Outro” que viria a eles o Senhor dá primeiro como “O Consolador” – uma Pessoa tão verdadeira como Ele realmente era. Um outro que “fique convosco”, um “Paracleto”, significando muito mais do que a palavra “Consolador” transmite. Alguém chamado para defender, apoiar, aconselhar, socorrer e confortar. Em tudo isso nos regozijamos, pois não necessitamos de um Conselheiro neste mundo de sofrimentos, Alguém que nos defenda, apoie, aconselhe e socorra?

Temos a tendência de esquecer que com o nome “Consolador” foi dado um acréscimo pelo Senhor, que define e limita seu significado. Ele disse, “Ele vos enviará outro Consolador... o Espírito da Verdade”. (Jo 14:16-17); “Quando vier o Consolador... o Espírito da Verdade”. (Jo 15:26). “Mas quando vier aquele Espírito da Verdade” (Jo 16:13).

O nome Consolador, portanto, descreve Sua obra, mas o nome Espírito da Verdade descreve Seu caráter essencial; tudo o que Ele faz nos homens e pelos homens como Consolador faz de acordo com Seu caráter como Espírito da Verdade. Se é invocado por algum crente para defender, suportar, aconselhar, socorrer e confortar, Ele só atua em todas estas formas como o Espírito da Verdade, defendendo, suportando, aconselhando, socorrendo e confortando em concordância com a verdade e somente com a verdade. O caráter essencial do Espírito de Deus, como o Espírito da Verdade, precisa ser enfatizado no tempo presente quando estamos dispostos a pensar nEle somente como o Espírito de Poder ou de Amor, na Sua obra na vida do crente.

Qual é a suprema evidência de que um homem é cheio do Espírito? Alguns dizem poder, enquanto outros dizem amor; mas se considerarmos cuidadosamente à luz da Palavra de Deus, veremos que a verdade vem antes do poder, e até mesmo antes do amor, e que para que o poder e o amor sejam verdadeiramente de Deus no crente, é necessário ter a verdade como fundamento. As marcas da natureza Divina que fazem distinção de todas as outras imitações são primeiro a verdade, então o amor. Isto com certeza é a verdade do Espírito de Deus, pois Ele é poder, e Ele é Amor, mas Ele antes de tudo é o Espírito da Verdade procedente do Pai, através Filho, no mundo.

Nas últimas palavras do Senhor aos discípulos antes da crucificação, Ele definiu muito claramente a obra do Espírito da Verdade, quando viesse habitar entre os homens. Isto pode ser brevemente sumarizado como segue:

Como o Espírito da Verdade Ele faz os discípulos saberem a verdade sobre:
a) A união de Cristo com o Pai – “Estou em meu Pai”;
b) A união do crente com Cristo – “Vós em mim”;
c) A habitação de Cristo no crente – “Eu em vós” (Jo 14:20).

Isto sendo estabelecido por Sua habitação, o Espírito da Verdade então ensina aos crentes a verdade como personificada nas palavras de Cristo (Jo 14:26);
Dar testemunho de Cristo (Jo 15:26), e
Guiar o crente em toda a verdade (Jo 14:26).

Não somente as verdades sobre Deus, mas as verdades concernentes a todas as coisas como são do ponto de vista de Deus; a condição do homem; a excessiva pecaminosidade do pecado; a verdade concernente ao arqui-inimigo do Filho de Deus – em resumo, a verdade sobre nós e em nós como vista pelo Deus da Verdade. O homem na sua condição de perdido é permeado com o espírito do engano – o espírito de Satanás –que outrora conheceu a verdade, mas não se firmou nela (Jo 8:44).

Geralmente pensamos na mentira como o ato de falar o que não é verdade, não temos pleno entendimento de que a natureza de Satanás é a corporificação do engano, assim como Cristo – não somente em atos e em palavras, mas em natureza – era e é da verdade. O Senhor tornou isto claro em Suas palavras aos Fariseus quando disse de Satanás: “Não há verdade nele”; portanto, “quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira”. O mundo todo está sob o controle do maligno e respira nele, por assim dizer, o genuíno ar do engano na mentalidade concernente a todas as coisas ao seu redor, e particularmente concernentes a eles mesmos. “O que é a verdade?” disse Pilatos, e “O que é a verdade?” os homens continuam a bradar, enquanto continuam cegados pela vida caída de Adão, cheia do veneno do inimigo de Deus que cega as mentes dos que não creem na verdade de Deus. Por esta razão o mundo está cheio de homens crendo no engano sobre Deus, sobre eles mesmos, e sobre Satanás – crendo até que o engano seja a verdade pela sutil cegueira do inimigo.

O Espírito de Deus veio a um mundo poluído pela mentira como o Espírito da Verdade, para revelar a verdade e produzir testemunho para a verdade, que em seu mais amplo significado pode ser descrita como a visão das coisas como Deus as vê – pois só isso é verdade.

A Verdade Liberta
Muitos homens, mesmo os religiosos, podem ignorar a verdade; é o que vemos através de uma das conversas do Senhor com os Fariseus. Aquele que é a Verdade disse “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Que o véu do engano os envolvia, apesar de seu conhecimento das Escrituras, era evidente em sua rápida resposta, “nunca fomos escravos de ninguém!” “Aquele que comete pecado é escravo do pecado”, replicou o Senhor, que conhecia a verdade sobre o pecado e a real condição deles. Estes homens religiosos viviam e agiam dia a dia crendo numa mentira. Eles pensavam que eram justos e que nunca estiveram em escravidão, mesmo sendo escravos do pecado o tempo todo. Eles precisavam conhecer a verdade e nada mais do que a verdade poderia os tornar livres. Algo vital para todos nós é que deveríamos conhecer a verdade por revelação do Espírito da Verdade. Apenas Ele pode nos guiar em toda a verdade, e isto Ele somente pode fazer ao reconhecermos nossa necessidade da verdade, ao admitirmos que a vida caída de Adão é tão envenenada pelo espírito da mentira que não há verdade nela, e que a verdade, como Deus é a verdade, somente pode vir a nós por meio e diretamente do Espírito da Verdade.

A suprema evidência de que o Espírito de Deus possui e enche um crente é a presença nele do Espírito Santo como o Espírito da Verdade, que o faz amar a verdade, desejar a verdade, buscar a verdade, obedecer à verdade; testemunhar da verdade e sofrer pela verdade, porque ele não pode agir contrário à verdade que o iluminou e tomou posse de seu ser mais interior.

“Quando o Espírito da Verdade vier” disse o Senhor, “Ele os guiará em toda a verdade”. Que Ele habita no meio dos crentes cheios do Espírito como o Espírito da Verdade se percebe pelo fato de que o primeiro registro de agravo ao Espírito não foi por um pecado contra Ele como Espírito de amor, mas como Espírito da Verdade. Andar em Verdade mostrou ser a suprema condição para não extinguir a presença do Espírito de Deus dentre os crentes pelo severo julgamento do Espírito da Verdade, como aconteceu através de Pedro, no caso de Ananias e Safira. Pedro não sacrificou a verdade por amor em uma vã expectação de obter um acordo da comunidade, mas o amor foi conservado pelo severo tratamento da verdade. O pecado não poderia ser coberto ou minimizado. Ananias reteve parte do preço de sua terra mas o apresentou como se fosse o total. Não parece que falou uma mentira. Ele tentou parecer o que ele não era. Foi sua esposa que falou a nua mentira, mas o Espírito da Verdade, possuindo Pedro, revelou a verdade com poder incisivo, e com palavras sucintas e claras, descrevendo a ação como ela era no ponto de vista do Deus da Verdade. Exatamente como Cristo certa vez disse claramente a Pedro, “Arreda, Satanás”, porque viu a fonte de suas palavras, assim Pedro expôs ali Satanás como o pai da mentira dizendo a Ananias, “Por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo?”

Este registro sobre Ananias mostra que o Espírito da Verdade é a primeira prova da pureza e poder do Espírito quando possui um homem. Este é o poder do Pentecostes que a Igreja de Deus precisa. Esta clara visão da verdade em si mesma, da condição dos homens, da obra de Satanás e da santidade de Deus. O poder afiado como faca no tratamento com tudo aquilo que é contrário à verdade é a marca suprema de que o Espírito da Verdade possui e controla os crentes em Seu mais amplo poder.

O Espírito da Verdade foi o co-testemunho da verdade sobre a morte e ressurreição do Senhor Jesus, e que capacitou os apóstolos a corajosamente proclamar a verdade ao povo de Jerusalém, sabendo que Deus levantaria testemunhas para Seu Filho. Foi o Espírito da Verdade que então os usou para impor sobre a nação a verdade de que haviam matado o Cristo de Deus.

“O Reino de Deus não constitui em palavras, mas em poder”, escreveu o apóstolo Paulo aos Coríntios. Não em falar, mas em efetuar! “E Ele”, o Espírito da Verdade, “quando vier, convencerá”. Esta é a necessidade da Igreja neste tempo, convicção do pecado, da justiça e do juízo, para ver a verdade sobre o pecado como Deus a vê, e ter assim o Espírito da Verdade habitando em cada crente para que, hora após hora, seja guiado em toda verdade concernente às coisas ao seu redor e dentro de si como elas são na visão de Deus; afim de ser uma testemunha fiel da verdade em todos os tempos e em todos os lugares.

Está muito claro que a natureza Divina é primeiro Verdade e então Amor, e que a característica da natureza Divina comunicada a um crente pela vinda, habitação e enchimento do Espírito Santo traz as mesmas marcas. A alma, cheia como estava a de Pedro no Pentecostes, será cheia do Espírito da Verdade. O crente possuído pelo Espírito Santo da mesma forma com que Paulo foi terá o mesmo discernimento aguçado sobre o que é a verdade e a mesma abnegada fidelidade em obediência ao Espírito da Verdade, “falando a verdade em amor” (Ef 4:15) e será também compelido pelo Espírito nele para reconhecer o mesmo Espírito da Verdade em outros.

Verdade Reconhecível Pela Verdade
Verdade é verdade em todo lugar e traz convicção da verdade a todo aquele que conhece o Espírito da Verdade. É este fato que o apóstolo João descreve em palavras que parecem muito fortes e também sensatas à luz do Espírito da Verdade interior. “Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. Assim é que conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro”. (I Jo 4:6). Então há algo mais profundo para testar o que é verdade e o que é erro, até mesmo a prova dos espíritos pelo teste de I João 4:2, de acordo com estas palavras do Apóstolo João. Cristo não pode ser dividido! Nem pode o Espírito da Verdade em um crente ser contrário ao Espírito da Verdade em outro crente ao mesmo tempo. Foi assim que o Senhor Mesmo declarou quando disse, “Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”.

A verdade é verdade, e a verdade vencerá todas as coisas opostas a ela. Ela exigirá o reconhecimento pelo co-testemunho do Espírito da Verdade. “Pela manifestação da verdade, nós nos recomendamos à consciência de todos os homens diante de Deus” (II Co 4:2), escreveu o apóstolo. A consciência humana reconhece a verdade. Ela não precisa de argumentos, nem defesa, ou apoio. Ela requer apenas testemunho, Deus fará o resto! Deixemos que o Espírito da Verdade nos guie em toda a verdade, pela revelação da verdade, por nosso desejo pela verdade, pela nossa obediência à verdade, pelo nosso andar em verdade e pelo nosso falar a verdade, até que o Espírito da Verdade então sopre através de nós que Ele pode convencer e revelar a verdade a outros que buscam a luz da verdade.

Autora: Jessie Penn-Lewis
Extraído da Revista O Vencedor

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O Poder do Espírito Santo

A palavra Grega “dunamis”, que é usada em estreita conexão com a obra do Espírito Santo de Deus, em e através de Seu povo, significa capacidade natural, poder inerente, habilidade para realizar qualquer coisa, não meramente poder capaz de ação, mas poder em ação.

Na segunda Epístola aos Coríntios ela é usada em numerosas ocasiões. Na primeira Epístola o poder é atribuído à “mensagem da Cruz” (1:18); Cristo é declarado como “o poder de Deus” (1:24); mais tarde nos é dito que “o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder” (4:20). A frase “o poder do nosso Senhor Jesus” é usada no próximo capítulo (5:4); o poder é em seguida atribuído a Deus (6:14); e finalmente lemos sobre o poder relacionado com a ressurreição da morte (15:43; ver também Fp 3:10). Aqui está o poder em ação, inerente em Deus e visto em todas as obras do Seu Reino. Ele é o Todo Poderoso e o poder absoluto é um de Seus atributos.

Na segunda Epístola, Paulo fala da vida Cristã: “Porque Deus, que disse: Das trevas brilhará a luz, é quem brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte” (4:6-7). Todo poder é inerente a Deus e é quando Ele está guardado no coração humano que é dada capacidade para se viver como um Cristão para a Sua glória. Mais tarde, falando do obreiro Cristão, o Apóstolo menciona como parte de seu equipamento; “na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça à direita e à esquerda” (6:7). Colocar o poder entre a verdade e a justiça certamente é importante, pois estes três não podem ser separados. Depois Paulo nos dá um vislumbre de sua própria experiência e, após nos falar de seu espinho na carne e de sua fervorosa intercessão pela remoção do mesmo, escreve; “E ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo” (12:9). A lição prática que sempre deve ser aprendida sobre o poder, é que “O poder pertence a Deus” (Sl 62:11) e somente pode ser exercitado através de nós quando conhecemos como realidade algo da nossa fraqueza. Finalmente nos é dado um vislumbre deste princípio em operação pela forma na qual mesmo o Senhor Jesus Cristo deliberadamente pôs de lado Seu próprio poder como Deus e confiou somente no poder do Pai, “Ainda que foi crucificado por fraqueza, vive contudo pelo poder de Deus” (13:4).

Retornemos agora àqueles lugares onde o poder está diretamente associado ao Espírito Santo de Deus. O evangelho de Lucas contém uma ou duas passagens interessantes. Em Lucas 1:15 é dito a Zacarias: João “será cheio do Espírito Santo”, e quando lemos mais nos é mostrada a forma particular na qual este enchimento molda seu caminho: “Ele irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias... a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido” (1:17). Os termos da comissão de João são claros, e ele deve ser equipado com poder para esta obra, o qual só é encontrado na presença do Espírito Santo, cujo propósito é entregar sua vida para que a vontade de Deus possa ser feita. Fora do âmbito da vontade de Deus não há poder.

Quando Gabriel diz a Maria que ela seria mãe do Redentor, ela pergunta maravilhada, “Como se fará isso, uma vez que não conheço varão?” Ela recebe a certeza, “Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus” (1:34-35). O Próprio Deus se curvou para operar o poderoso milagre da Encarnação num corpo humano. A humilde prontidão para Sua vontade foi a parte de Maria, o poder foi de Deus. É sempre assim em todo Seu tratamento para conosco.

Em Lucas 4:14 lemos que quando o Senhor Jesus enfrentou e venceu o Tentador no deserto, Ele “voltou para a Galileia no poder do Espírito; e a sua fama correu por toda a circunvizinhança”. No verso 36 encontramos este comentário, “E veio espanto sobre todos, e falavam entre si, perguntando uns aos outros: Que palavra é esta, pois com autoridade e poder ordena aos espíritos imundos, e eles saem?” Novamente este era o poder visto em ação e as pessoas, reconhecendo sua realidade, ficavam maravilhadas.

A referência final a ser tratada neste evangelho é Lucas 24:49. O Senhor Jesus Cristo definiu explicitamente a comissão dos Seus discípulos. Eles deveriam ser testemunhas de Sua morte e ressurreição, e proclamar no Seu Nome a oferta de perdão ao arrependido. Então disse; “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai porém, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder”. O poder e a autoridade são entrelaçados. A autoridade do nosso testemunho é afiançada pela procuração do Espírito. Não temos qualquer direito de tentar sustentar nosso testemunho sem essa procuração. Foi escrito sobre este assunto que ‘Recebemos o Espírito Santo, e Ele concede, ou antes se torna em nós, poder; e mesmo este poder cessará de ser exercido no momento em que nos tornamos auto dependentes ou autoconfiantes. A única esperança do crente ou da Igreja por poder na oração ou na pregação, ou no viver para Deus ou no trabalhar com Deus é encontrado na perpétua possessão e operação do Espírito Santo.

Comentando sobre Romanos 6:13 o Bispo Moule escreve: ‘O Apóstolo de fato chama o crente para se render a Deus o Espírito Santo como a um Poder e Presença que já habita interiormente em viva realidade, mas que está esperando, como esteve antes, pelas boas-vindas da alma para vir para dentro e tomar inteira possessão de todo o círculo e âmbito da vida. É um chamado para deixar a água que brota da montanha de Deus aumentar no crente, em seus propósitos e afeições, em suas obras e vontades, calma e seguramente na direção do seu bendito nível’. Deixemos bem claro aqui que, a obra de Deus só pode ser feita pelo poder do Seu Espírito, e como indivíduos precisamos tratar bem de perto com Ele para nos assegurar que estamos ligados a esta Pessoa, a Fonte de toda obra eficaz. Também nunca devemos nos esquecer que Ele, Que é o poder de Deus, somente nos usará para a tarefa que Deus já planejou para nós.

Atos 1:8 reitera a promessa e conclui o mandamento de Lucas 24:49, “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. O propósito do poder trazido pelo Espírito interior era para testemunhar. As trevas do coração humano só podem ser penetradas e iluminadas pelo poder do Espírito. Evidência, argumento, persuasão e até a pregação são de nenhum proveito sem ele. O testemunho Cristão não deve ser apenas fiel mas também frutífero, e isto é garantido por uma busca pessoal, que conta com a capacitação do Espírito Santo.

Nos primeiros versos de Atos 3 ocorre um notável milagre e no verso 12 lemos que quando Pedro viu que o povo correu a se ajuntar disse a eles, “Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” Em nossos dias há em alguns círculos muita conversa sobre curas e poderes milagrosos, mas há também muitos tristes fracassos. O sensacionalismo é sempre perigoso, e o assim chamado milagre – que precisa da propaganda humana para chamar a atenção do povo – geralmente é falsificação. Pedro estava preocupado que o povo não pudesse entender o que tinha acontecido e ansioso para ver que toda honra fosse rendida a Ele, Quem sozinho opera maravilhas. Para citar o Bispo Moule outra vez, “Eu não seria enganado” ele escreve, “como se pretendesse relegar apenas à era apostólica toda as manifestações da presença e poder de Deus através de Seu povo em forma de sinais e maravilhas. Concluo, tanto da história da Igreja como da Escritura em I Coríntios 13:8, que de maneira geral o comumente chamado milagre demonstra que o poder foi destinado somente aos primeiros dias apenas... Creio que perigos sutis e fortes tentações jazem ocultas onde os Cristãos ou a comunidade esta ansiosa pelo dom de tais faculdades miraculosas mais do que por um contínuo aprofundamento na humilhação do ego diante do Deus Santo e de um mais próximo e mais disciplinado andar com Ele’. Que palavras sábias! Ninguém em seu são juízo poderia negar que Deus pode e opera obras milagrosas em nossos dias, mas onde o milagre é incitado e toma o centro do palco, temos somente uma exibição do ego que não apenas fracassará mas será positivamente perigoso.

Nossa palavra também é usada em íntima conexão com o Espírito de Deus para descrever a eficácia do testemunho dos apóstolos, mesmo quando resistidos e perseguidos (4:3). O poder é dado como uma das qualificações que fizeram Estevão apto para o seu ofício como um diácono; e o Senhor Jesus Cristo é declarado durante Seu ministério terrestre como sendo cheio do poder Divino (10:38).

As Epístolas não nos proveem muitos exemplos de acoplamento do Espírito Santo e poder juntos. Romanos 15:13 dá como uma das evidências do poder do Espírito Santo operando na vida, “para que abundeis na esperança”. Isto certamente é um milagre da graça, quando uma pessoa pode ver além do material que a cerca por todos os lados, e estar animado com esperança mesmo nas mais densas trevas e nas situações mais desanimadoras. No verso 19 Paulo fala do “poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito Santo; de modo que desde Jerusalém e arredores, até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo”. A demonstração de poder aqui é novamente vista para conduzir todos os pensamentos a um só fim; a glória de Cristo e a proclamação da Sua graça salvadora.

Em I Coríntios 2:4-5 Paulo avalia sua própria pregação, que “não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder; para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”; seguramente o único objetivo digno da pregação.

As Epístolas aos Tessalonicenses nos proveem com um contraste. Na primeira Paulo escreve, “porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção” e tomamos a imagem deste grupo de homens e mulheres emancipados estabelecidos em uma Colônia Romana, cuja nova fé fundada era óbvia para aqueles entre os quais viviam e, se odiada por alguns, era respeitada por todos (1:5). Na segunda carta encontramos direta advertência contra aquele cuja vinda “é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem” (2:9-10).

Mais uma referência poderia ser considerada relevante e planejada para trazer real regozijo e segurança a todo coração verdadeiramente Cristão, “Porque Deus não nos deu o espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” (II Tm 1:7). Que maravilhosa combinação de elementos, e quão descritiva do poder e do amor, o gracioso método do Espírito Santo! Este é o poder que você e eu precisamos conhecer em toda a sua plenitude para que também possamos ser cheios do poder no testemunho e ver, em qualquer área na qual é Seu prazer operar, os milagres que redundem para Sua e somente Sua glória, por toda a eternidade.

Autor: J.C. Metcalfe
Do livro: “A Bíblia e a Vida Cheia do Espírito” (The Bible and the Spirit-filled Life)
Extraído da Revista O Vencedor


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