As armas com as quais lutamos não são humanas: ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo. E estaremos prontos para punir todo ato de desobediência, uma vez estando completa a obediência de vocês. (2 Coríntios 10.46)
O Elo entre o Raciocínio e o Pensamento
O homem manifesta sua rebeldia não apenas em palavras e raciocínio, mas também em pensamentos. Palavras rebeldes brotam do raciocínio rebelde, e o pensamento, por sua vez, trama o raciocínio. Portanto, o pensamento é o fator central na rebeldia. Uma das mais importantes passagens da Bíblia é 2 Coríntios 10.4-6, porque, nesses versículos, destaca-se a área da vida do homem na qual se exige obediência a Cristo. O versículo 5 diz”[...] levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo”. Isso dá a entender que a rebeldia do homem se encontra basicamente no pensamento.
Paulo menciona que devemos destruir argumentações e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus. O homem gosta de edificar raciocínios como fortalezas à volta de seu pensamento, mas tais raciocínios devem ser destruídos, e o pensamento deve ser levado cativo. As argumentações devem ser deixadas de lado, mas o pensamento deve ser reconduzido. Na guerra espiritual, as fortalezas devem ser tomadas de assalto para que o pensamento seja levado cativo. Se as argumentações não forem descartadas, não há como reconduzir o pensamento do homem à obediência de Cristo.
A palavra “pretensão”, no versículo 5, significa “edifício alto” no original. Do ponto de vista de Deus, as argumentações humanas são como um arranha-céu, pois obstrui o conhecimento de Deus. Logo que o homem começa a raciocinar, seus pensamentos ficam sitiados, e ele perde a liberdade de obedecer a Deus, uma vez que a obediência é uma questão de pensamento. A razão expressa-se externamente em palavras, mas, quando as argumentações se escondem no interior do ser humano, cercam o pensamento e o paralisam, para que não obedeça. O hábito de argumentar é tão sério que não pode ser resolvido sem uma batalha.
Mas Paulo usou a razão para lutar contra a razão. A inclinação mental para argumentar deve ser derrotada com armas espirituais, isto é, o poder de Deus. É Deus que luta contra nós, pois nos tornamos seu inimigo. Nosso hábito mental de argumentar é algo que herdamos da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas como são poucos os que percebem quantos transtornos nossa mente cria para Deus! Satanás emprega toda sorte de argumentações para nos escravizar, a fim de que nos tornemos inimigos de Deus em vez de submissos a Ele.
O texto de Gêneses 3 exemplifica 2 Coríntios 10. Satanás argumentou com Eva, e Eva, percebendo que a árvore era boa para alimento, reagiu com argumentação. Ela não deu ouvido a Deus, pois tinha suas razões. Quando o raciocínio aparece, o pensamento do homem cai em uma armadilha. O raciocínio e o pensamento estão totalmente ligados; o primeiro tende a derrotar o segundo. E, quando o pensamento é levado cativo, o homem encontra-se impossibilitado de obedecer a Cristo. Portanto, podemos concluir que, se realmente desejamos obedecer a Deus, devemos saber como a autoridade Dele destrói as fortalezas da razão.
Recapturando a Mente Cativa
No novo testamento grego, a palavra noema (noemata no plural) é usada seis vezes: Filipenses 4.7; 2 Coríntios 2.11, 3.14, 4.4, 10.5 e 11.3. Em português é traduzida por “entendimento”, “intenções”, “mente”, “argumento”, e o significado é desígnios da mente. A “mente” é a faculdade; o “desígnio” é sua ação – o produto da mente humana. O homem, por meio da faculdade da mente, pensa e decide livremente, e isso representa o próprio homem. Assim, se alguém deseja preservar sua liberdade, deve dizer que todos os seus pensamentos são bons e corretos. Não se atreve a expô-los a interferência e, portanto, deve cercá-los com muitas argumentações. Eis por que os homens falham em crer no Senhor: ficam, habitualmente, aprisionados na fortaleza de alguma argumentação.
Um incrédulo pode dizer: “Vou esperar até ficar bem velho”; ou: “Muitos cristãos não se comportam bem. Por isso não posso crer”; ou: “Ainda não. Vou esperar até que meus pais morram”. Semelhantemente, há razões que os cristãos apresentam para não amar ao Senhor: os estudantes dirão que estão ocupados demais com seus estudos; os homens de negócios ocupados demais com seus negócios; o doente acha que sua saúde é fraca demais, e assim por diante. Se Deus não destruir essas fortalezas, os homens jamais ficarão livres. Satanás aprisiona os homens utilizando a fortaleza dos argumentos. A maioria dos homens coloca-se atrás de tantas linhas de defesa que são incapazes de atravessá-las para a liberdade. Só a autoridade de Deus pode levar cativo cada pensamento para obedecer a Cristo.
Para reconhecer a autoridade, as argumentações humanas devem ser primeiramente lançadas ao chão. Só depois que o homem começa a ver que Deus é Deus, conforme declarado em romanos 9, é que suas argumentações são destruídas. E quando as fortalezas de Satanás são destruídas, nenhuma argumentação permanece, e os pensamentos humanos podem ser, portanto, levados cativos, para que obedeçam a Cristo. Só depois que os pensamentos são recapturados é que o homem pode verdadeiramente obedecer a Cristo.
Podemos perceber se alguém já tomou conhecimento da autoridade observando se suas palavras, seus argumentos e pensamentos já foram devidamente reestruturados. Quando uma pessoa depara com a autoridade de Deus, sua língua não se atreve a se agitar livremente, suas argumentações e, ainda mais profundamente, seus pensamentos já não podem mais ser livremente expressos. Naturalmente, o homem tem numerosos pensamentos, todos fortalecidos com muitas argumentações. Mas chega o dia em que a autoridade de Deus derruba todas as fortalezas da argumentação que satanás levantou e recaptura todos os pensamentos do homem, para torná-lo escravo espontâneo de Deus. Por conseguinte, já não pensa mais independentemente de Cristo: é totalmente obediente a Ele. Isso é libertação total.
Aquele que ainda não tomou conhecimento da autoridade geralmente aspira a ser conselheiro de Deus. Tal pessoa não tem, ainda, os pensamentos cativos a Deus. Aonde quer que vá, seu primeiro pensamento é como descobrir como melhorar a situação. Seus pensamentos jamais foram disciplinados, pois são muitas e incessantes suas argumentações. Devemos permitir que o Senhor faça em nós uma operação de corte, penetrando nas profundezas de nosso pensamento até que sejam todos levados cativos por Deus. Depois disso, reconheceremos a autoridade de Deus e não nos atreveremos a livremente argumentar ou aconselhar.
Agimos como se existissem duas pessoas no universo que são oniscientes: Deus e eu. Eu sou um conselheiro que sabe tudo! Tal atitude indica claramente que meus pensamentos precisam ser levados cativos, que não sei nada sobre autoridade. Se eu fosse alguém cujas fortalezas da argumentação estivessem realmente tomadas pela autoridade de Deus, não ofereceria mais conselhos nem teria interesse em fazê-lo. Meus pensamentos ficariam subordinados a Deus, e eu já não seria mais uma pessoa livre. (A liberdade natural é o solo para o ataque de satanás e deve ser renunciada.) Eu deveria estar pronto a ouvir. Os pensamentos do homem são controlados por um destes dois poderes: pela argumentação ou pela autoridade de Cristo. Na verdade, ninguém neste universo pode exercer livremente sua vontade, porque é cativo ou das argumentações ou de cristo. Por conseguinte, ou serve a Satanás ou serve a Deus.
Observando-se o seguinte, é fácil perceber se uma pessoa reconhece ou não a autoridade:
1) se ela pronuncia palavras rebeldes,
2) se argumenta diante de Deus e
3) se emite muitas opiniões.
A derrota da argumentação é simplesmente o aspecto negativo; o positivo é ter todos os pensamentos cativos para obedecer a Cristo, de modo que a opinião pessoal não mais se manifeste. Antes, tinha muitos argumentos para sustentar meus muitos pensamentos; agora não tenho mais nenhum argumento, pois fui capturado. O cativo não tem liberdade. Quem prestaria atenção a opinião de um escravo? O escravo deve aceitar os pensamentos de outra pessoa sem jamais emitir opinião própria. Portanto, nós, que fomos capturados por Cristo, estamos prontos a aceitar os pensamentos de Deus, em vez de oferecer qualquer conselho que seja nosso.
Advertências aos Teimosos
1. PAULO
Paulo, em seu estado natural, era uma pessoa inteligente, capaz, sábia e racional. Sempre descobria um meio de resolver as coisas, era confiante e servia a Deus com todo entusiasmo. Mas, quando liderava um grupo de pessoas a caminho de Damasco para ali aprisionar os cristãos, foi levado ao chão por uma grande luz. Naquele momento, todas as suas intenções, meios e capacidade foram dissolvidos. Não retornou a Tarso nem voltou a Jerusalém. Não só abandonou sua tarefa em Damasco, como também jogou fora todos os seus motivos para a empreitada.
Muitas pessoas, quando encontram dificuldades, mudam de direção, tentando primeiro um caminho e, depois, outro. Mas, não importa o que façam, continuam agindo de acordo com suas ideias e meios. São tolas e não caem com o golpe desferido por Deus. Embora Deus, nesse assunto em particular, as deixe prostradas, não aceitam a derrota de suas argumentações e pensamentos. Assim, a estrada para Damasco pode ficar realmente bloqueada para elas, enquanto prosseguem sua viagem para Tarso ou para Jerusalém.
Não foi o que aconteceu com Paulo. Uma vez abatido, perdeu tudo. Não podia mais dizer nem pensar coisa alguma. Não sabia mais nada. “Que devo fazer, Senhor”, perguntou. Encontramos aqui alguém cujos pensamentos foram levados cativos pelo Senhor e que obedeceu do fundo de seu coração. Antes, Saulo de Tarso, fossem quais fossem as circunstâncias, sempre liderava. Agora, ao tomar conhecimento da autoridade de Deus, seus argumentos sumiram. A principal evidência de que a pessoa entrou em contato com Deus está no desaparecimento de seus argumentos e de sua esperteza. Peçamos honestamente a Deus que nos conceda a perplexidade produzida pela luz. Paulo parecia dizer: “Sou um homem que foi levado cativo por Deus e, portanto, agora sou seu prisioneiro. Chegou a hora de ouvir e obedecer, não de pensar e decidir”.
2. REI SAUL
O rei Saul foi rejeitado por Deus não porque roubasse, mas porque poupou o que havia de melhor entre os bois e ovelhas para sacrificá-los ao Senhor. Foi algo que brotou de sua mente – ideias próprias sobre como agradar a Deus. Sua rejeição ocorreu porque seus pensamentos não foram capturados por Deus. Ninguém poderá dizer que o rei Saul não foi zeloso em servir a Deus. Não mentiu, uma vez que realmente poupou o melhor entre o gado e as ovelhas. Mas tomou por si mesmo uma decisão (v. 1 Samuel 15).
A inferência é clara: todos os que servem a Deus devem, categoricamente, refrear decisões com base em pensamentos próprios; antes, devem executar a vontade de Deus. Precisam dizer, cheios de expectativa: “Que devo fazer, Senhor?”. Dizer mais que isso seria totalmente errado. A obediência é melhor que o sacrifício. Não temos absolutamente o direito de oferecer conselhos a Deus.
Quando o rei Saul viu aquelas ovelhas e o gado, desejou poupá-los da morte. Seu coração talvez se inclinasse para Deus, mas lhe faltava o espírito de obediência. Um coração que se inclina para Deus não pode substituir a atitude de “não me atrevo a dizer coisa alguma”. Uma oferta de gorduras não pode suplantar o “não dar opinião”. O rei Saul, ao se recusar a destruir todos os amalequitas, com suas ovelhas e gado, conforme Deus ordenara, foi sentenciado a ser morto por um amalequita. E foi assim que seu governo terminou. Ele foi morto por um amalequita! Todo aquele que, em seu pensamento, poupa um amalequita, será finalmente aniquilado por ele.
3. NADABE E ABIÚ
Nadabe e Abiú rebelaram-se quanto à oferta porque deixaram de se sujeitar à autoridade de seu pai. Tentaram executar ideias próprias. Pecaram contra Deus, oferecendo fogo estranho. Assim, ofenderam a administração divida. Embora não falassem nenhuma palavra nem apresentassem motivos, ainda assim, pondo em prática ideias e sentimentos próprios, queimaram incenso. Acharam esse culto alternativo uma coisa boa. Se errassem, seria apenas tentando fazer uma coisa boa- isto é, servindo a Deus. Acharam que tal pecado seria insignificante. Não sabiam que seriam totalmente rejeitados por Deus e punidos com a morte.
O Testemunho do Reino Apresentado por Meio da Obediência
Deus não considera o fervor de nossa pregação ou a disponibilidade de espírito para sofrer por Ele. Ele olha para ver até que ponto somos obedientes. O reino de Deus começa quando há absoluta obediência a Deus – nenhum pronunciamento de opinião, nenhuma apresentação de argumentos, nenhuma murmuração, nenhuma injúria. Por esse dia glorioso, Deus tem esperado desde a criação do mundo. Embora Deus tenha seu Filho primogênito, as primícias da obediência, está aguardando os muitos filhos semelhantes ao primogênito. Sempre que, neste mundo, surge uma igreja que verdadeiramente obedece à autoridade de Deus, há o testemunho do reino, e satanás é derrotado. Satanás não tem medo de nosso trabalho enquanto agimos sobre o principio da rebeldia. Apenas ri, secretamente, quando fazemos a coisas de acordo com nossos pensamentos.
A lei mosaica declara que a arca deveria ser carregada por levitas, mas filisteus enviaram a arca de volta a Israel sobre um carro puxado por bois. Davi, ao transportar a arca para sua cidade, deixou de consultar a Deus. Em vez disso, ordenou, por conta própria, que a arca fosse transportada por um carro de bois. Os bois tropeçaram e a arca começou a cair. Uzá estendeu a mão na direção da arca para segurá-la. Instantaneamente, foi morto por Deus. Mesmo que a arca não tivesse caído, não se encontrava, como deveria, sobre os ombros dos levitas, mas sobre um carro de bois. Numa ocasião anterior, quando a arca foi carregada pelos levitas através do rio Jordão, ela esta segura e protegida, apesar do transbordamento do rio. O contraste mostra-nos que Deus quer que lhe obedeçamos, não que lhe façamos sugestões. Deus deve esvaziar-nos primeiro, para que sua vontade seja executada sem interferência. O modo de servir, se acrescentamos pensamentos humanos, fica para sempre obstruído. Deus deve governar; os homens não devem dar conselhos.
Por isso os pensamentos humanos devem ficar totalmente de fora. No passado, encontramos a liberdade vivendo segundo nossa vontade; agora, encontramos a verdadeira liberdade, pois nossos pensamentos foram levados cativos por Deus. Ao perder nossa liberdade, obtemos a verdadeira liberdade no Senhor
“E estaremos prontos para punir todo ato de desobediência, uma vez estando completa a obediência de vocês” (2 Coríntios 10.6). A obediência perfeita só é possível depois que os pensamentos são recapturados. Aquele que ainda se inclina a oferecer conselhos a Deus não é totalmente obediente. O Senhor estará pronto a vingar toda desobediência quando nossa obediência estiver completa. Se nós, na qualidade de cristãos, podemos nos transformar totalmente quanto à obediência absoluta a Deus, temendo nossas ideias e opiniões, então Deus será capaz de manifestar sua autoridade sobre a terra. Como esperar que o mundo seja obediente, se a igreja não obedece? Uma igreja desobediente não pode esperar que os incrédulos obedeçam ao evangelho. Mas, com uma igreja obediente, também surgirá a obediência ao evangelho.
Todos nós devemos aprender a aceitar a disciplina, para que nossa boca seja instruída no sentido de não falar levianamente, nossa mente, a não argumentar, nosso coração, a não oferecer conselho. O caminho da glória está exatamente à nossa frente. Deus há de manifestar sua autoridade sobre a terra.
Autor: Watchman Nee
Extraído do livro Autoridade Espiritual
Palavras de Vida Eterna
quinta-feira, 25 de março de 2021
A Rebeldia no Homem
Assinar:
Postar comentários (Atom)
ARTIGOS MAIS LIDOS DA SEMANA
-
Mas o que fora curado não sabia quem era.” (João 5.13) Os anos são curtos para os felizes e saudáveis. Mas trinta e oito anos de enfermida...
-
Texto base: Ap 2: 1 a 7 Basicamente temos duas palavras que resumem este texto: Ministério (Ex 35:19; II Cor 5:18; Ef 4:12) e Sacerdócio (...
-
Deus plantou grande número de árvores no Jardim do Éden, mas 'no meio do jardim', isto é, em um lugar de especial proemin...
Nenhum comentário:
Postar um comentário