Esta passagem contém dois pensamentos; que no Cristianismo, a questão da salvação e do seguir a Cristo através de uma vida santa, é impossível para nós. E então, ao lado deste, está o pensamento de que o que é impossível para nós é possível a Deus.
Os dois pensamentos marcam as duas grandes lições que temos que aprender em nossa vida Cristã. Muitas vezes leva um longo tempo para aprendermos aquela primeira lição, ‘que na vida Cristã nós não podemos fazer nada', que a salvação é impossível para nós. E muitas vezes, quando aprendemos isto, não aprendemos a segunda lição que, ‘o que tem sido impossível para nós é possível para Deus'. Abençoado é aquele que aprende estas duas lições.
O aprendizado destas duas lições marca dois estágios na vida Cristã. O primeiro estágio é quando estamos tentando fazer o máximo que podemos e fracassamos, e então tentamos ainda mais duramente e fracassamos novamente, e então tentamos ainda mais e sempre fracassamos. E no entanto, muitas vezes, mesmo assim não aprendemos a lição. É impossível. Pedro gastou três anos na escola de Cristo e nunca aprendeu que ‘é impossível', até que negou seu Senhor e fugiu e chorou amargamente. Então ele aprendeu a lição que ‘para o homem é impossível' servir a Deus e a Cristo.
Olhe apenas por um momento para o que significa aprender esta lição. Primeiramente nós lutamos contra ela; então nos submetemos a ela, mas relutantemente e em desespero; e por último a aceitamos de boa vontade e regozijamo-nos nela. No começo da vida Cristã não temos a concepção dessa verdade. Fomos convertidos, temos a alegria do Senhor em nossos corações e começamos a correr a carreira e lutar o combate. Estamos seguros da vitória, pois somos determinados e sinceros, e Deus nos ajudará . No entanto, por alguma razão, muito breve, falhamos onde não esperávamos e o pecado tira o melhor de nós. Ficamos desapontados mas pensamos: ‘Eu não estava vigilante o suficiente, não fiz minhas resoluções fortes o suficiente'. E novamente prometemos, e novamente oramos, e ainda outra vez falhamos. Pensamos: ‘Não sou regenerado? Não tenho a vida de Deus em mim?'. E pensamos: ‘Sim, eu tenho Cristo para me ajudar. Eu posso viver uma vida santa'. Mas no final começamos a compreender que tal vida é impossível para nós; e há uma multidão de Cristãos que chegam a este ponto; fazemos o nosso melhor, mas nunca chegamos muito longe.
Mas, ainda assim, o Senhor nos conduz. Quando voltamos a tomar aquela palavra, ‘é impossível', em toda a sua verdade, e em desejo intenso e oração começamos a clamar a Deus: ‘Senhor, qual o significado de tudo isso. Como posso ser liberto do poder do pecado?'. Então chegamos ao estado da pessoa regenerada em Romanos 7. Ali encontramos os Cristãos tentando o melhor para viverem uma vida santa. A lei de Deus tem sido revelada a eles de modo a alcançar a profundidade dos desejos do coração, e eles ousam dizer: ‘Me deleito na lei de Deus, no tocante homem interior. O querer o bem está presente em mim. Meu coração ama a lei de Deus, e minha vontade escolheu aquela lei'. Pode um homem como este fracassar, com seu coração cheio do prazer na lei de Deus e com sua vontade determinada para fazer o que é certo? Sim. Isto é o que Romanos 7 nos ensina, mas é preciso algo mais. Não somente devo me deleitar na lei de Deus por causa do homem interior e desejar o que Deus deseja, mas preciso de uma onipotência divina para efetuar isto em mim. E isto é o que o apóstolo Paulo ensina em Filipenses 2:13: “É Deus quem opera em vós, tanto o querer como o realizar”. Note o contraste. Em Romanos 7 a pessoa regenerada diz: ‘O querer está em mim, mas o fazer descobri que não posso. Eu desejo, mas não posso realizar'. Mas em Filipenses 2, temos uma pessoa que vai mais longe, aquele que entende que quando Deus efetuou o querer renovado, Deus dará o poder para realizar o que aquele querer deseja.
Vamos receber isso como a primeira grande lição na vida espiritual: ‘É impossível para mim, meu Deus: fazer com que haja um fim da carne e todo seu poder, um fim do ego, e fazer com que minha glória seja abandonada'. Louvado seja Deus pelo divino ensinamento que nos faz incapazes!
Agora vem a segunda lição: ‘As coisas que são impossíveis para o homem são possíveis para Deus”. Eu disse um pouco atrás que há muitos que têm aprendido que ‘é impossível para o homem', mas então se dão por vencidos em impotente desespero e vivem uma vida Cristã miserável sem alegria ou firmeza ou vitória. Mas por quê? Porque não se humilham e não aprendem aquela outra lição: “Para Deus tudo é possível”.
Sua vida todos os dias é uma evidência de que Deus faz coisas impossíveis; sua vida é para que as impossibilidades sejam tornadas possíveis pelo onipotente poder de Deus. Isso é o que o Cristão precisa. Você tem um Deus onipotente que você adora, e precisa aprender a entender que você não quer um pouco do poder de Deus, mas que você quer – com reverência permita ser dito – a totalidade da onipotência de Deus para mantê-lo justo, para viver uma vida Cristã.
Todo o Cristianismo é um efetuar da onipotência de Deus. Olhe para o nascimento de Jesus. Aquilo foi um milagre do poder divino, e foi dito à Maria, “Para Deus nada é impossível”. Foi a onipotência de Deus. Olhe para a ressurreição de Cristo. Nós fomos ensinados que foi conforme a excelsa grandeza de Seu poder que Deus levantou Cristo da morte.
O Cristianismo teve seu começo na onipotência de Deus, e em toda alma deve ter sua continuação naquela onipotência. Todas as possibilidades da vida Cristã têm suas origens em uma nova percepção do poder de Cristo para operar toda a vontade de Deus em nós.
A causa da fraqueza em nossa vida Cristã é que queremos exercita-la nós mesmos, consentindo que Deus nos ajude. Isto não funciona. Devemos nos achegar em completa fraqueza e deixar Deus efetuar, e então Ele efetua, gloriosamente. Isto é o que precisamos se somos de fato obreiros de Deus.
Podemos ver nas Escrituras que quando Moisés liderou Israel para fora do Egito; quando Josué trouxe-os para a Terra Prometida; e todos os servos de Deus no Velho Testamento; todos eles contaram com a onipotência de Deus fazendo o impossível. Este Deus vive hoje, e este é o Deus de todo aquele que é Seu filho. E ainda tão freqüentemente estamos esperando Deus nos dar uma pequena ajuda, enquanto fazemos nosso melhor; ao invés de buscar compreender o que Deus quer e estar desejando dizer: ‘Eu nada posso fazer, mas Deus deve fazer e fará tudo'.
Precisamos chegar ao ponto de admitir: 'Na adoração, na obra, na santificação, na obediência a Deus, não posso fazer nada por mim mesmo. E então minha posição é de adorar o Deus onipotente e crer que Ele trabalhará em mim em todo momento'. Oh que Deus pela Sua graça possa nos mostrar que Deus temos, a que Deus temos nos confiado. Um Deus onipotente, desejando, com toda Sua onipotência, colocar-se a Si mesmo à disposição de todos os Seus filhos. Devemos tomar a lição do Senhor Jesus e dizer, ‘Amém, as coisas que são impossíveis para mim, são possíveis para Deus'.
Autor: Andrew Murray
Do livro “Absolute Surrender” (Entrega Absoluta).
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